democraciaAbierta: Opinion

A esquerda caviar permanece indiferente à repressão venezuelana

A indiferença de parte da esquerda em relação ao caso de Rubén González, sindicalista preso pelo regime bolivariano, exemplifica até que ponto ela está desconectada da realidade da Venezuela.

Carlos Patiño
25 Agosto 2020, 12.01
Rubén González
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Hearts of Venezuela

Rubén Gonzalez é prisioneiro dos militares na Venezuela. Sindicalista de 61 anos, foi preso duas vezes como punição por sua luta no setor público. Em 2014, após um julgamento de cinco anos por organizar uma greve, ele foi declarado inocente de todas as acusações.

Em 2018, foi novamente detido arbitrariamente e, em 2019, um tribunal militar o condenou a cinco anos e nove meses de prisão. Eles alegam que o líder dos trabalhadores teria "insultado" as Forças Armadas.

Rubén é um trabalhador da CVG Ferrominera Orinoco (a empresa estatal responsável pela exploração e exploração de minério de ferro e seus produtos), antigo membro do partido do governo e cristão evangélico.

Exigir direitos trabalhistas custou-lhe sua liberdade e sua saúde. Rubén sofre de doenças crônicas que não são devidamente tratadas na prisão e, de acordo com seus parentes, ele compartilha uma cela sem qualquer proteção para evitar a propagação da Covid-19.

Rubén é atualmente o único prisioneiro civil na ala militar da prisão de La Pica. No entanto, para um setor da esquerda internacional, Rubén não existe no mapa das vítimas de violações dos direitos humanos.

Esse silêncio deliberado de setores ligados à revolução bolivariana mostra uma cumplicidade vergonhosa com os captores do líder trabalhista.

Rubén González é um homem da esquerda que é ignorado por grande parte da esquerda

O jornalista Andrés Cañizález, na ocasião do XXV Foro de São Paulo realizado em Caracas no ano passado, fez referência ao termo esquerda caviar (em referência ao conceito europeu gauche caviar) para apontar aqueles venezuelanos que se dizem progressistas, mas na realidade vivem em uma bolha de conforto, distante do povo e das vítimas que afirmam apoiar. Rubén González é um homem da esquerda que é ignorado por grande parte da esquerda.

Os órgãos de direitos humanos mais importantes do mundo se pronunciaram a favor de Rubén. A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, rejeitou sua condenação. A Comissão de Inquérito da OIT recomendou sua libertação e a de Rodney Alvarez, outro sindicalista preso sem um julgamento justo.

O Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária descreveu sua privação de liberdade e condições de detenção como arbitrárias. A Anistia Internacional o declarou um "prisioneiro de consciência".

A esquerda caviar faz vista grossa. Assim como há abuso policial e racial nos Estados Unidos, violência pós-conflito na Colômbia, repressão no Chile, Equador e Brasil, há também graves violações dos direitos humanos contra líderes sociais em Cuba, Nicarágua e Venezuela.

Há muitos Rubén González. É assim que eles tentam torná-los invisíveis.


Artículo publicado no El Nacional em espanhol e traduzido pelo democraciaAbierta. Leia o original aqui.

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