Jornalismo no México: informar para viver, morrer por informar
Desde 2000, 133 jornalistas foram assassinados no México. 10 deles em 2019. Enquanto isso, a impunidade vence 99% dos casos.
Entre 2000 e 2020, o México perdeu mais de 100 jornalistas a serviço dos desprotegidos. Somente o Afeganistão e a Síria – países em guerra – registraram números mais altos. Sem sua presença, investigações sobre o crime organizado, a pobreza, o desvio de dinheiro público, a desapropriação de terras indígenas por empresas multinacionais, assim como a devastação de praias, selvas e florestas foram truncadas. A impunidade prevalece nessa tragédia. Até o momento, em mais de 99% dos casos, não houve perpetradores ou punições.
Em 1º de fevereiro de 2000, o jornalista Luis Roberto Cruz Martínez, da revista Multicosas, foi assassinado em Reynosa, Tamaulipas. O suspeito no assassinato, Óscar Jiménez González, foi detido, mas depois desapareceu. Até o momento, nada se sabe sobre ele.
Em 16 de maio de 2020, o jornalista Jorge Miguel Armenta Ramos, proprietário do Grupo Editorial Medios Obson, que publicava o jornal El Tiempo, foi assassinado em Cajeme, Sonora. Ele saía de um restaurante quando várias pessoas abriram fogo em sua direção com armas de vários calibres. Até o momento, nada se sabe sobre eles.
Entre um assassinato e outro, ocorreram outros 131. No meio dessa linha do tempo, em 23 de março de 2017, Miroslava Breach foi morta a tiros dentro da sua camionete enquanto esperava seu filho Carlos para leva-lo à escola em Chihuahua, Chihuahua, e ao meio-dia de 15 de maio de 2017, Javier Valdez foi morto a tiros no meio da rua em frente ao Río Doce, jornal que ele fundou anos antes em Culiacán, Sinaloa.
Até o momento, nada se sabe sobre os assassinos intelectuais ou os porquês de 99,13% desses casos, de acordo com a organização Artigo 19.
A única coisa que está clara é que o alto risco para a prática do jornalismo no México tem dois protagonistas: um é a violência desencadeada pela guerra contra os cartéis de drogas e o outro é a impunidade. Ambos disputam os holofotes. Mas os dois são codependentes.
Por que está acontecendo?
Na república mexicana, 11 entidades contam com leis que criaram mecanismos de proteção; duas têm vínculos com o Mecanismo Federal de Proteção, no Ministério do Interior. Enquanto isso, 11 estados têm iniciativas não aprovadas e as sete entidades restantes não têm propostas de legislação.
Cientistas políticos e jornalistas falam sobre este fenômeno, que em 20 anos tirou do México mais de 100 jornalistas a serviço dos desprotegidos. Somente o Afeganistão e a Síria – países em guerra – registraram mais mortes.
No México, os jornalistas são mortos por uma razão simples: por fazer seu trabalho. Ou seja, por relatar que este país foi dominado pelo crime organizado, a pobreza, desvio de dinheiro público, desapropriação da terra dos povos nativos por empresas multinacionais, assim como a devastação de praias, selvas e florestas por grupos hoteleiros e mineradores.
Mas não há punição. A decisão de denunciar os crimes ao Promotor Especial de Atenção a Crimes cometidos contra a Liberdade de Expressão (FEADLE) ou às procuradorias locais é um círculo vicioso. O contexto sempre foi de descaso, estereótipo, corrupção e uma aposta no esquecimento.
Aqueles que partiram há duas décadas foram diluídos no tempo. A busca dos rastros de um jornalista que morreu há duas décadas, leva a túmulos misteriosos. As autoridades não deram seguimento aos casos, as famílias se mudaram e os colegas não querem falar sobre alguns casos particulares.
A guerra contra as drogas
Em 2006, o governo de Vicente Fox Quesada criou a Procuradoria Especial para Crimes contra Jornalistas (FEADP) através do acordo A/031/06. Era uma necessidade. Os seis anos do mandato do presidente, que durante a campanha prometeu estabelecer garantias de defesa e proteção dos direitos humanos, estava prestes a chegar ao fim. E 24 jornalistas – aqueles profissionais que, de acordo com o discurso do ex-presidente, não seriam restringidos em seu trabalho – haviam sido assassinados.
A FEADP foi a primeira de seu tipo no mundo. Sua ordem legal era proteger, buscar e impedir que autoridades e poderes factuais restringissem ou censurassem "a voz do povo, a opinião pública e a liberdade de expressão". Octavio Alberto Orellana Wiarco foi nomeado para comandá-la pelo então procurador geral, Eduardo Medina Mora (hoje fugitivo da justiça mexicana).
Julho de 2006 marcou uma nova eleição presidencial no México. Felipe Calderón Hinojosa, de 43 anos, foi nomeado pelo Partido da Ação Nacional (PAN), a mesma força política de direita que havia nomeado Vicente Fox Quesada seis anos antes. Na contagem dos votos, ocorreu um evento sem precedentes: o candidato do PAN venceu Andrés Manuel López Obrador, seu concorrente mais próximo, com 0,58% dos votos. “Espúrio” foi como passou a chamá-lo López Obrador, que se autodenominou "Presidente legítimo do México" e convocou uma concentração na simbólica Avenida Reforma. E assim, o epíteto "espúrio" se dissemina em vários setores da população.

"Espúrio" era um adjetivo que Felipe Calderón carregava e com o qual lidava. Ele, que quando criança via seu pai, ao lado de líderes políticos como Manuel Gómez Morín e Efraín González Luna, como parte do movimento solidarista, baseado na ética política, nos direitos humanos e na distribuição equitativa da riqueza.
Se as palavras têm algum peso, "espúrio" tornou-se um fardo para Calderón Hinojosa. Assim, ele procurou uma estratégia para ajudá-lo a ganhar confiança em seu governo. Em menos de dez dias, usando indicadores apressados e fracos, conseguiu justificar a necessidade de declarar uma guerra contra grupos criminosos. Rapidamente, passou do papel à ação. Mais tarde, ele negou que seu projeto equivalia a "uma guerra".
Mas era tarde demais. O México havia se tornado um campo de batalha. A violência –persistente nos anos anteriores – havia se tornado ainda mais obstinada. Vidas foram estilhaçadas. Sonhos foram perdidos. O negócio do tráfico de drogas se ramificou com um crescimento sem precedentes. E reportar – ir tocar a alma dos protagonistas para entender sua experiência e contá-la – tornou-se uma atividade de alto risco.
Enrique Toussaint, jornalista e cientista político, encontra uma associação direta entre o início dessa política de segurança e uma cadeia de adversidades para os repórteres mexicanos, que muitas vezes, terminou em morte. "Os pontos mais quentes desse período desastroso, são precisamente onde se localizou a impossibilidade de praticar jornalismo. Michoacán e Ciudad Juárez se tornaram espelhos da violência que começou a tomar corpo no mapa mexicano".
Balbina Flores, representante dos Repórteres sem Fronteiras no México, concorda com esta descrição. "Durante a administração de Felipe Calderón Hinojosa, a violência contra jornalistas que havia começado sob o governo de Vidente Fox, se intensificou. E nunca mais parou. Continuou com Enrique Peña Nieto (2012-2018) e neste mandato, o de Andrés Manuel López Obrador, não tem sido melhor".
O perverso jogo dos estereótipos
Em 2008, ao apresentar seu relatório anual, o então chefe da Procuradoria Especial para Crimes contra Jornalistas (FEADP), Octavio Alberto Orellana Wiarco, mencionou três fatores pelos quais os informantes mexicanos foram mortos: ameaças de grupos de tráfico de drogas, abusos de autoridade e uma suposta ligação de alguns dos jornalistas com o crime organizado.
Em outras palavras, a interação entre jornalistas e criminosos, tornou os primeiros em suspeitos.
Embora a taxa de mortalidade dos comunicadores tenha sido grave durante o mandato de Vicente Fox Quesada (2000-2006), o novo cenário da guerra contra os cartéis catapultou a violência contra eles. Mas a partir desse momento, também os jornalistas que foram mortos, ganharam estereótipos.
Então, para que esclarecer suas mortes? Para que investigar o porquê das investigações terem sido suspensas? Para que falar sobre jornalismo no México? Para que falar sobre repórteres perdidos?

A organização Artigo 19 explica no relatório especial "Protocolo de Impunidade em Crimes contra Jornalistas", que a liberdade de expressão e o jornalismo no México tornou-se uma frente de resistência, "atacada pelo fogo cruzado, seja ele político, econômico, criminoso ou governamental, fazendo com que jornalistas exerçam seu trabalho todos os dias, sem garantias e em um contexto de alto risco”.
O pesquisador Oswaldo Zavala, autor do livro Los cárteles no existen (“Os cartéis não existem”) – uma investigação publicada em 2018, que rompeu com as formas como o tráfico de drogas era contado no México até então – explica que a violência sofrida pelos jornalistas é realizada por "agentes do Estado". Ele explica: "Não é um policial. (As agressões) vão desde a ameaça de um porta-voz, até a perseguição".
De qualquer forma, a morte veio para ficar. Até 2010, 58 jornalistas foram mortos. Segundo o relatório da FEADP, Oaxaca foi o estado com o maior número de crimes contra jornalistas, seguido pela Cidade do México e depois o Estado do México. Tabasco e Tamaulipas também protagonizaram a lista.

O governo do então presidente Calderón Hinojosa viu a necessidade de transformar o Ministério Público e o fez, através do acordo A/145/10. Assim foi criada a Procuradoria Especial para Crimes contra a Liberdade de Expressão (FEADLE).
O primeiro procurador foi Gustavo Salas Chávez, que esteve envolvido em um escândalo, quando estava a cargo de homicídios na Procuradoria Geral da Cidade do México, o que levou à sua demissão em 17 de julho de 2008. Naquela época, o jornal Reforma publicou uma gravação na qual ele insulta vários de seus colegas. Na gravação, ouve-se também suas intenções de conseguir uma subproduradoria.
Salas Chávez havia atuado como diretor de Profissionalização e Extensão Acadêmica na Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ) e também havia sido delegado daquela agência nas delegações (agora chamadas de prefeituras) de Álvaro Obregón, Magdalena Contreras, Miguel Hidalgo, Cuajimalpa e Venustiano Carranza. Também foi coordenador geral do Ministério Público Especializado.

Um ano após sua nomeação, Salas Chávez compareceu perante a Primeira Comissão Permanente do Congresso. A FEADLE não tinha sequer seu próprio prédio, mas o encarregado disse na época que tinha resolvido "muito poucos" casos, por falta de informação.
Perante o Congresso, ele explicou que alguns casos não haviam sido classificados como homicídios de jornalistas, porque as vítimas haviam morrido em acidentes, não haviam sido reconhecidas pelos donos dos meios de comunicação, ou porque eram casos ligados ao crime organizado. Ele deixou o cargo em 15 de fevereiro de 2012, apenas dois anos após assumir o cargo. Laura Angélica Borbolla Moreno tomou as rédeas.
A guerra continuou. Ficou claro que a estratégia de desmantelar os cartéis não havia funcionado. Novas gerações de criminosos haviam surgido no México. Houve mais de 104 mil mortos, mais de 14.000 desaparecidos e milhares de pessoas desalojadas de suas cidades de origem em um fenômeno que não foi contabilizado até hoje. Esse era o México em 2012.

Tudo començou assim
Em 1951, os donos e diretores dos meios de comunicação, ofereceram um jantar ao então presidente, Miguel Alemán Valdés, no restaurante Grillón. Naquele ano, os jornais nacionais tinham uma dívida com a Produtora e Importadora de Papel SA (PIPSA), um monopólio estatal. A fim de mitigar a crise, o coronel José García Valseca, proprietário da cadeia Soles, reuniu editores de jornais e revistas, para pedir ao governo que perdoasse ou renegociasse a dívida. O presidente respondeu com um perdão total.
O banquete, digno de um principado, coroou a gratidão dos homens de negócios do jornalismo. Comeram foie gras com geleia de champanhe; ovos recheados com caviar russo; lagosta americana; arroz crioulo; timba (barriga ) de presunto florentino; pato em molho Curaçao; crepes de creme de amêndoa. Os marinados foram feitos com vinhos Chablis 1946 e champanhe Charles Heidsieck.
O escritor da Revolução Mexicana, Martín Luis Guzmán, o coronel José García Valseca e o empresário Rómulo O'Farrill compareceram. Além disso, o comitê organizador incluiu os diretores do Novedades, Alejandro Quijano; do El Universal, Miguel Lanz Duret; do Excélsior, Rodrigo de Llano; da La Prensa, Mario Urdanivia, entre outros.
Martín Luis Guzmán foi o encarregado de escrever o convite. "A imprensa mexicana, formada por todos os jornais, semanários e revistas sérios e informativos, está em dívida com o presidente da República, Sr. Miguel Alemán. Durante os quatro anos e meio que já se passaram de seu mandato, ele tem sido um constante e escrupuloso apoiador da liberdade de imprensa, assim como da liberdade de pensamento e de palavra", dizia o convite.

Os cantores Pedro Vargas e Toña La Negra se apresentaram acompanhados pela orquestra de Pedro García. Pararam apenas para dar lugar ao discurso de García Valseca: "Obrigado, Sr. Presidente, pela forma como resolveu rapidamente a escassez de papel". Quando Miguel Alemán Valdez morreu, o coronel decretou o dia 7 de junho como Dia da Liberdade de Imprensa.
Dois anos após aquele jantar, o semanário Presente, dirigido por José Piñó Sandoval, que havia publicado reportagens sobre corrupção no governo alemão, fechou as portas e cinco jornalistas do Tiempo, dirigidos por Martín Luis Guzmán, foram demitidos.
Seis décadas depois, a jornalista Regina Martínez foi estrangulada em sua própria casa em Xalapa, Veracruz. Uma semana depois, a Polícia Naval encontrou os corpos torturados e desmembrados de Gabriel Huge, ex-fotógrafo do jornal Notiver, seu sobrinho e fotógrafo da agência Veracruznews, Guillermo Luna; Esteban Rodriguez, do Diario AZ e também Irasema Becerra, administradora do jornal Dictamen. Huge e Luna eram jornalistas investigativos especializados em crime organizado e suas ligações com funcionários municipais e estaduais.
Em 2012, o jornalista Marco Antonio Ávila García morreu em Guaymas, Sonora, e o jornalista Adrián Silva Moreno em Tehuacán, Puebla. Outras mortes seguiram. Até o momento, são 133.
Estes profissionais tinham um denominador comum: trabalhavam sem segurança social, com suas próprias ferramentas e com exigência de conformidade. O cientista político Enrique Toussaint, reconhece que o fato de o jornalismo ter historicamente estado nas mãos de "milionários", proprietários de várias empresas nas áreas de telecomunicações, lojas de eletrodomésticos e hospitais, permitiu chantagear o governo, o que colocou em xeque o direito humano do acesso à informação. "Tem havido uma constante precarização do negócio e, portanto, das condições de trabalho", diz ele.
Oswaldo Zavala, que também trabalhou em várias redações mexicanas, acrescenta um elemento ao cenário complexo. "Neste contexto, os jornalistas também sofrem com a violência diária e cotidiana, perpetrada por sua própria entidade. A imprensa também é parceira na violência, e esta é, provavelmente, a mais endêmica, a mais contínua, a mais perniciosa violência, porque está relacionada à exploração no trabalho, aos poucos benefícios, o trabalho em condições de risco, e em troco de uma alta demanda imposta ao repórter".
Perante o Congresso mexicano, em julho de 2012, a promotora Laura Angélica Borbolla Moreno disse: "Encontramos comportamentos que derivam de algum relacionamento ou vínculo com o crime organizado... ou porque publicaram algo ou porque não publicaram algo”.

O rertorno do DO PRI
Na pessoa de Enrique Peña Nieto, o Partido Revolucionário Institucional voltou ao poder em dezembro de 2012. As campanhas aconteceram enquanto milhares de estudantes saíam às ruas para protestar contra a interferência da mídia na política e na sociedade. Em 1º de dezembro, o presidente tomou posse enquanto uma multidão jogava pedras nos prédios do Centro Histórico da Cidade do México.
Isso acontecia ao mesmo tempo que a imprensa internacional refletia uma atmosfera de esperança. O jornal britânico The Economist publicou que a previsão maia do fim do mundo havia sido mal interpretada. Não se tratava do fim, mas de uma renovação. Um despertar que agora era liderado por Enrique Peña Nieto. A previsão se desvaneceu. Em 2014, apenas dois anos após tomar posse, 43 estudantes da escola normal rural Raúl Isidro Burgos em Ayotzinapa, Guerrero, desapareceram enquanto viajavam a bordo de três ônibus.
A partir de então, o presidente perdeu toda credibilidade. O The Economist não disse mais que Peña Nieto era capaz de guiar o leme do México em direção ao amanhecer e questionou sua capacidade política. Nas ruas, o grito se tornou incessante: "Faltam 43!” As urnas também estavam falando. O nível de aceitação do político que foi capaz de retornar o PRI ao governo, despencou, chegando a 39%, de acordo com a pesquisa do jornal Reforma, e a 42%, de acordo com o El Universal.
E assim foi passando o tempo peñanietista. Anos em que o presidente nunca mencionou as palavras "guerra", "mortos" ou "desaparecidos". Criou assim uma distância de seu predecessor, Calderón Hinojosa, mas na verdade, a guerra continuou. Três jornais anunciaram que preferiam o silêncio. Em um editorial publicado em 11 de março de 2013 – no primeiro ano de Peña Nieto – o jornal Zócalo, de Saltillo, no estado de Coahuila, declarou: "Como não há garantias ou segurança para o exercício pleno do jornalismo, o Conselho Editorial dos jornais Zócalo decidiu, a partir desta data, abster-se de publicar qualquer informação relacionada ao crime organizado. Nosso compromisso é redobrar nossos esforços para melhorar a qualidade das informações e manter uma linha de objetividade e imparcialidade...”.
Dois outros jornais assumiram a autocensura, o El Diario de Juárez em Chihuahua e o El Mañana em Nuevo Laredo, Tamaulipas. Ambos concordaram que, se continuassem a desempenhar seu trabalho, colocariam a vida de seus profissionais em risco. Os dois já haviam sofrido ameaças a seus repórteres e repetidos ataques a suas instalações.
A violência chegou aos portais de notícias.
Jaime Guadalupe González Domínguez, repórter e diretor do OjinagaNoticias, em Chihuahua, foi baleado em seu carro na tarde de 3 de março de 2013. Foram 18 tiros. O portal fechou no dia seguinte. Em outras partes do México, a morte continuava teimosa. Alberto López Bello foi morto em 17 de julho de 2013 em Oaxaca e Gregorio Jiménez de la Cruz, sequestrado em 5 de fevereiro de 2014 em Coatzacoalcos, Veracruz.
O corpo de Gregorio foi encontrado executado. Jorge Torres Palacios foi sequestrado por um comando armado em 29 de maio, quando chegava em sua casa em um bairro de Acapulco, em Guerrero. Três dias depois, foi encontrado dentro de um saco, decapitado e parcialmente enterrado em uma cova.
Em agosto de 2015, Arely Gómez, então procuradora geral da República, nomeou Ricardo Nájera Herrera como responsável pela FEADLE. Nájera Herrera tinha mais experiência profissional em comunicação social do que em investigação policial: graduou-se na Faculdade de Direito da Universidade Nacional Autônoma do México, com carteira registrada em 1980, e atuou como diretor geral de Comunicação Social da Procuradoria Geral de Justiça do Distrito Federal e diretor geral de Comunicação Social da PGR.
O trabalho de Nájera Herrera se amontoou em sua mesa. Em 2017, a FEADLE alcançou 97% de ineficácia na investigação e sentença de crimes cometidos contra jornalistas mexicanos. Em abril daquele ano, a procuradora-geral adjunta de Direitos Humanos, Prevenção ao Crime e Serviços Comunitários da PGR, Irene Herrerías Guerra, compareceu perante a Comissão Especial de Acompanhamento de Agressões contra Jornalistas e Mídia do Senado da República e apresentou esta informação: de 2000 a 2017, haviam ocorrido 114 homicídios, dos quais o Ministério Público especializado havia investigado apenas 48.
Acrescentou que desde a criação da FEADLE em 2010, 368 casos foram abertos por ameaças contra jornalistas, 159 por abuso de autoridade, 70 por ferimentos, 70 por roubo, 55 por privação ilegal de liberdade e 48 por danos à propriedade.
Também disse que, dentro desse universo de mortes, ameaças e agressões, apenas três casos terminaram em sentenças.
Três dias antes do assassinato do jornalista Javier Valdez Cárdenas em maio de 2017, Ricardo Nájera Herrera foi demitido e substituído por Ricardo Sánchez Pérez del Pozo. Dalí a hoje, o Ministério Público produziu 18 condenações, incluindo as de dois casos emblemáticos: os assassinatos de Miroslava Breach Velducea e Javier Valdez Cárdenas, correspondentes do diário La Jornada. Oitenta pessoas estão em julgamento e dezenas de investigações ainda estão em andamento.

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