Os ajustes drásticos que a mídia tradicional está enfrentando se intensificaram nas últimas semanas com a aceleração de demissões e fechamentos, que já vinham acontecendo em muitos lugares. O caso dos ajustes na revista SEMANA na Colômbia foi especialmente controverso.
O pior é que a crise pela qual a mídia tradicional está passando não tem uma, mas várias razões: econômica, ideológica, política e até de valores, e o coronavírus parece ter chegado no pior momento. De acordo com uma pesquisa de 2018 de diferentes organizações públicas e privadas, a mídia é a organização em que as pessoas mais confiam na América Latina. E, no entanto, essa crise da Covid-19 pode levar o que resta de um pilar da democracia, como a imprensa.
O que faz disparar os alarmes?
No mês de março, uma das mídias mais prestigiadas e tradicionais da Colômbia, a revista SEMANA, demitiu Daniel Coronell, um de seus mais respeitados colunistas, o que levou vários outros colunistas a rescindir sua coluna em solidariedade enquanto o próprio colunista contou as razões por trás de sua demissão. A demissão ocorreu logo depois de encerrar várias de suas publicações mais especializadas, como a renomada Revista Arcadia, um fechamento que foi fortemente criticado.
Igualmente surpreendente foram várias das manchetes publicadas por este meio como parte da cobertura da pandemia de Covid-19. Por exemplo, sua última capa em 13 de abril diz: “A corrida pela vacina. Uma competição científica como essa não é vista desde a conquista do espaço. A vitória estratégica mudará o jogo mundial. Estes são os detalhes da façanha." Esta manchete chama a atenção por vários motivos: por ser alarmista, sensacionalista e por ser falso. A mídia internacional respeitada, como o New York Times, Foreign Affairs e a Science Magazine, destacou como essa pandemia resultou em uma colaboração científica nunca vista antes, algo que os próprios cidadãos testemunharam.
A SEMANA está longe de ser a única. Ainda ontem, 15 de abril, o El Espectador, um meio colombiano tradicional, publicou uma peça gráfica afirmando que o coronavírus sobrevive de 3 horas a 3 dias em diferentes superfícies, uma afirmação completamente enganosa. O próprio estudo que El Espectador cita explica como apenas 0,1% do vírus sobrevive em superfícies, tornando a infecção quase impossível, como já havíamos dito no Democracia Abierta.