Ela faz referência a uma declaração de Salles sobre “ir passando a boiada e mudando todo o regramento”. O ministro do Meio Ambiente, por ocasião de uma reunião interministerial no dia 22 de abril de 2020, falou em aproveitar que as atenções estavam voltadas à pandemia da Covid-19 para mudar regras e flexibilizar a fiscalização ambiental.
Seria consenso entre os servidores que o processo de aplicação de multas proposto pela antiga instrução normativa poderia ser célere se houvesse estrutura virtual. Isso não teria ocorrido porque a norma “foi editada de maneira centralizada e sem a participação da equipe responsável pela execução das atividades”. Portanto, a pandemia não teria sido o motivo para travar as autuações.
Os técnicos da área ambiental agora afirmam que Salles e os presidentes do Ibama e ICMBio “mais uma vez” causam uma nova paralisação de todos os procedimentos internos. Motivo: os servidores dizem que passaram um ano para se adequar às mudanças definidas pela IN anterior. Quando parecia que os procedimentos andariam, o governo editou uma nova IN que redefiniu todo o regramento interno novamente.
Outra reclamação é sobre “prazos incompatíveis com as condições disponíveis aos órgãos”. A referência ocorre principalmente porque a nova IN estabelece que quase todos os processos burocráticos da aplicação de multas aconteçam num prazo de cinco dias. Porém, os servidores falam da redução de pessoal nos órgãos de fiscalização ambiental. Na prática, segundo eles, definir tais prazos “transfere aos servidores uma responsabilidade indevida”.
"É injusto e inaceitável a tentativa de estabelecer um caos administrativo generalizado e atribuir aos servidores a responsabilidade pela incompetência administrativa dos gestores atuais e pessoas que foram escolhidas para ocuparem os cargos dessas instituições", afirmou a técnica ouvida pelo openDemocracy.
O prazo de cinco dias é considerado impraticável pelos servidores, porque os AI (autos de infração( são lavrados durante operações que ocorrem em locais ermos e duram em média 30 dias. Ou seja, se um AI é lavrado no meio do mato ou no meio do oceano, os fiscais precisam parar suas atividades procurar um local (hotel, etc.) e fazer os relatórios.
Além de perder tempo de operação (e interromper a busca por mais infratores), os fiscais terão que se desdobrar para encontrar locais em que possam produzir os relatórios. Fora isso, dependendo das documentações apresentadas ou do tipo de crime, o relatório precisa de mais tempo para ser bem elaborado.
O openDemocracy entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e ainda não obteve resposta. Este espaço continua aberto.
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