Na Nicarágua, o poder é monopolista. O Exército, a Junta Nacional Eleitoral, a Assembleia Nacional, o Ministério Público e o Judiciário viabilizam todas as medidas contra a oposição, promulgam leis que ferem os direitos humanos e justificam a violência contra a população por meio da polícia, do Exército e dos paramilitares. A oposição fragmentada em que convivem os adversários da ditadura não tem conseguido suscitar um apelo atraente para a população. Quando falam da recuperação da democracia liberal, dirigem-se à comunidade internacional e não ao povo nicaraguense, que não sabe a que se refere – exceto os jovens, que não se resignarão.
Ortega e Murillo não se enganam, a volubilidade democrática pertence à política conciliadora, a projetos eleitorais nos quais é possível perder. É, portanto, uma armadilha do imperialismo americano que está tentando tirar-lhes o poder. "Vamos com tudo", disse Murillo. Em outras palavras: ninguém vai nos tirar daqui e que caiam os que tenham que cair.
"Silêncio a qualquer custo: táticas do Estado para aprofundar a repressão na Nicarágua". Este é o nome do relatório mais recente da Anistia Internacional, que enumera os métodos do regime, durante três anos, para esmagar toda dissidência ou crítica, a qualquer custo. O cerco se estende a cerimônias religiosas, apreensão de propriedades e destruição de instalações.
O prognóstico é claro e desavergonhado. Nem concessões nem diálogos que busquem uma mudança de governo.
A terapia não pode ignorar o medo, nem confundi-lo com covardia. Por enquanto, o terror evita colocar-nos em risco inútil, assim como nossas famílias e amigos que poderiam ser objeto de vingança.
Como o mundo hoje é diferente, Ortega e Murillo sabem que uma invasão é uma ideia estranha, inadmissível, que as condenações internacionais têm força moral mas não são incapazes de impor, que os países da América Latina têm problemas internos suficientes derivados da pandemia do coronavírus para se envolverem diretamente nos problemas dos nicaraguenses. No caso dos governos da América Central, as atitudes se aproximam de posições tão imagináveis quanto inaceitáveis.
Em seu relatório, a Anistia Internacional denuncia as estratégias utilizadas pelas autoridades nicaraguenses que escrevem um dos capítulos mais sombrios da história recente do país, onde quem se opõe às políticas do governo pode perder sua liberdade e até mesmo a vida.
A dupla calcula bem. Mas, a história costuma sair pela janela quando a porta está fechada. E a janela está aberta... esperando. Por enquanto, o pesadelo continua.
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