
Uma mulher levantando uma bandeira mexicana durante uma manifestação contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Cidade do México. 12 fevereiro 2017. NurPhoto SIPA USA/PA Images. Todos os direitos reservados.
No ano de 2018 celebrar-se-ão eleições presidenciais no México, num cenário de grande complexidade, incerteza e instabilidade. A imprevista vitória de Donald Trump fez saltar todos os alarmes. A sua manifesta agressividade contra o México, tanto em relação ao TLCAN como em relação à migração, põe em perigo uma relação bilateral na interdependência assimétrica entre as duas economias: a sua disrupção pode supor um aumento da tensão potencialmente insuportável, tanto para as relações bilaterais como no interior do país.
A DemocraciaAberta, juntamente com os seus colaboradores mexicanos Gema Santamaria e Alejandro Vélez, lança esta serie para realizar, no estrada para as eleições de 2018, uma reflexão dinâmica sobre os diferentes aspetos que caracterizaram o sexénio que vivemos. O facto de que o índice de popularidade do Presidente Peña Nieto tenha caído para 12%, devido à recente crise do “gasolinazo”, juntamente com as mobilizações e manifestações continuas, indica até que ponto a evolução política do país está aberta.
Contrastes e contradições
O México é um país de profundos contrastes e contradições. Por alguma razão se diz que é um país onde o realismo mágico é normal. Bastam alguns exemplos recentes para ilustrá-lo. Primeiro, o governo de Peña Nieto realizou uma defesa férrea da reforma educativa que levou inclusive à repressão de manifestantes e da sociedade civil, tudo isto enquanto uma equipa de investigação jornalística descobriu que o presidente que queria avaliar todos os professores tinha plagiado a sua própria tese de licenciatura. Noutro evento surreal, foram convocados dezenas de manifestações por todo o país para protestar contra a iniciativa presidencial de legalizar o casamento igualitário, a adoção homoparental e reconhecer a identidade de género; isto enquanto o país chorava – e cantava – a morte de Juan Gabriel, músico e compositor que ao preguntar-lhe se era homossexual respondeu que “o que se vê não se pergunta”. Além disso, no dia 15 de setembro, no dia em que se comemora a independência, conviveram nas ruas da capital uma nutrida manifestação para exigir a renúncia do presidente que convidou o odiado Donald Trump, juntamente com outros grupos de pessoas levados ao Zócalo, o tradicional entourage clientelar, para ovacionar o presidente e a sua família quando saiam da varanda presidencial. Por último, o México projeta-se em foros internacionais como um país líder na promoção dos direitos humanos e direitos dos migrantes, ao mesmo tempo que o silêncio, a negligência e a ausência de justiça marcam a história recente de assassinatos extrajudiciais, deslocamentos, desaparecimentos forçosos, e migrantes – em trânsito e retornados – esquecidos por todo o país. Perante o aumento da violência em diferentes estados da república e o inegável fracasso duma década de “guerra” contra as drogas, premiou a inercia e a falta de respostas, em vez duma visão estratégica e integral sobre a crise de segurança à que se enfrenta o país.
Vozes críticas
Tendo em conta estas contradições e a necessidade de decifrar esta realidade numa conjuntura tão urgente como é o processo eleitoral de 2018, apresentamos na Democracia Abierta esta serie de artigos de análise sobre os muitos desafios sociais e políticos aos que se enfrenta o país. Acreditamos que, perante a profunda crise de legitimidade à que se enfrenta o México, tanto em relação à sua democracia como em relação à sua elite politica, devem surgir vozes criticas capazes de interpretar este momento histórico e de sugerir linhas de ação no futuro. A nossa serie México na encruzilhada de 2018 abre um espaço para que a academia e a sociedade civil reflexionem sobre temas como o desaparecimento de pessoas, o deslocamento forçoso, a militarização da segurança pública, as relações com os Estados Unidos, a crise migratória, a falta de transparência e a corrosão da confiança da cidadã, os linchamentos e a justiça pela própria mão, a atenção às vítimas e a reparação dos danos por delitos e violações dos Direitos Humanos, entre muitos outros.
México, tal como o deus Jano, tem um rosto que olha para um futuro com maior transparência e participação cidadã, e outro que olha para um passado antidemocrático e com tons repressivos. Neste projeto, convidamos todos os leitores a que estejam atentos a este espaço que pretende entender o país e as suas muitas contradições, assim como a propor possíveis saídas à encruzilhada à que nos enfrentamos no dia de hoje.
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