
O que aconteceu na Nova Zelândia não é um evento isolado. Sem dúvida, este é um fenômeno que tem raiz na islamofobia levada ao extremo, que teve como resultando um massacre desconcertante que deixou 50 mortos e 50 feridos. O ataque na Nova Zelândia é a pior ação terrorista perpetrada por um militante da extrema direita na história moderna do país oceânico.
Esse ato de violência nos leva a investigar o futuro do chamado discurso do ódio, e também nos faz refletir sobre a maneira pela qual a radicalização ideológica leva a fenômenos incompreensíveis, no qual racismo e xenofobia culminam em um nível de violência que busca o fim das nossas sociedades multiculturais.
Para o autor do ataque, a razão para cometer este crime foi clara: vingar a morte de milhares de pessoas assassinadas por "invasores estrangeiros". As teorias que circulam entre os grupos de extrema direita, como a "Grande Substituição" - um panfleto racista que aponta que os povos europeus estão sendo substituídos por populações de imigrantes não europeus - são outro exemplo de quão perigosa é a propagação e a legitimidade de o discurso de ódio.
Nova comunidade: a extrema direita mundial
Subgrupos na internet foram criando de forma acelerada novas comunidades virtuais e reais que defendem as posições extremistas da supremacia branca e agridem descaradamente estrangeiros, mulheres e muçulmanos. Ideias racistas se transformaram em ideologias e a militância encheu múltiplas agendas democráticas com noções negativas baseadas no etnocentrismo e o desejo contínuo de exercer a hegemonia sobre os povos não brancos.
Ideias racistas se transformaram em ideologias e a militância encheu múltiplas agendas democráticas com noções negativas baseadas no etnocentrismo e o desejo contínuo de exercer a hegemonia sobre os povos não brancos.
A preocupação é acirrada quando ataques como o da Nova Zelândia chegam a ser transmitidos ao vivo pela internet, levando o Facebook e o YouTube a removerem milhões de vídeos que mostraram o ataque do começo ao fim. Essas técnicas perversas que buscam legitimar o discurso de ódio através da viralidade da internet são utilizadas pelas comunidades que chegam a esses conteúdos para se informar e continuar validando suas ideologias extremas, sendo a internet o principal canal pelo qual é promovido o crescimento dessa nova extrema direita mundial.
Não pronunciar nome do autor
Com a ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que promove a ideia de nunca pronunciar o nome do autor, desperta-se uma sensibilidade importante sobre o poder da linguagem e a importância centrada nos autores e não nas vítimas. A busca por notoriedade através do terrorismo parece se espalhar mais cada vez que o nome do autor é repetido. Portanto, as notícias críticas sobre a emoção, posições e reconhecimento das vítimas parecem estar em dívida quando esse tipo de ataque ocorre.
As reflexões imediatas, mais à frente do sensacionalismo midiático da descrição de fatos, autores ou figuras, devem se concentrar nas questões centrais que se encontram por trás desses episódios, como as narrativas sobre a liberação da posse de armas promovidas por governos como o de Trump, ou as fórmulas para buscar justiça e reparação para as vítimas.
Que discursos influenciam crimes como este e, a partir disso, o que devemos mudar como sociedades democráticas?
Quem são as figuram que adotam noções de pós-verdade semelhantes àquelas que promovem a supremacia branca? Que discursos influenciam crimes como este e, a partir disso, o que devemos mudar como sociedades democráticas? Qual é o papel do Estado, do círculo privado e familiar e das instituições sociais para evitar que cenários como este se repitam? Estas são apenas algumas das questões que devem ser abordadas com mais vigor inclusive do que o próprio massacre.
Portanto, reflexões sobre o extremismo na internet, a islamofobia impulsionada pelo etnocentrismo, ou como essas tragédias podem ou não acontecer, devem ser a verdadeira lupa posta sobre o assunto.
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