democraciaAbierta

Pós-conflito na Colômbia (2). Além do dinheiro.

A experiência colombiana, bem como as diversas experiências internacionais, demonstram que as iniciativas económicas para a paz trazem com ela uma mudança real na dinâmica e na narrativa que envolve o conflito. English. Español.

Angela Rivas Gamboa
11 Janeiro 2016
2243971328_d09c590b9e_z_0_0.jpg

Marcha na Plaza Mayor, Madrid, España. Flickr. Some rights reserved.

Pensa-se, por vezes, que o contributo que as empresas podem oferecer para a construção da paz está limitado às suas capacidades económicas. Deste modo, o esforço de as vincular a iniciativas de paz tende a centrar-se nas possibilidades de contribuição financeira no sentido de cobrir os custos do pós-conflito, de criar oportunidades para gerar receitas destinadas aos veteranos e às vítimas, ou no financiamento de iniciativas desenvolvidas por partidos terceiros. Todavia, além das contribuições financeiras, há diversos meios pelos quais as empresas podem contribuir para a manutenção da paz. Em muitos casos, é certo que a contribuição mais significativa que as empresas podem é necessariamente monetária.

Sem dúvida, as empresas terão um papel preponderante na economia do cenário de pós-conflito e de paz. Gostaria de chamar à atenção para este papel, tanto ao nível da economia política da paz e da transformação das realidades locais intimamente ligadas ao conflito, quanto ao nível da reconstrução de laços comunitários e do capital social. É sobre estes aspectos que, na Fundación Ideas para la Paz (FIP), temos trabalhado na definição de uma agenda empresarial que gravita sobre os seguintes seis eixos:

Estes eixos e estas linhas refletem o papel das empresas e dos negócios na construção da paz, na perspectiva das realidades que se transformam, dos novos contextos, relações, capacidades e discursos. Uma vez que não é possível entrar em grandes detalhes sobre eles, focar-nos-emos naquilo que chamamos “empreendimentos para a paz”. Este é o eixo tendencialmente associado às questões puramente monetárias e, analisá-lo, ajuda a compreender a nossa proposta para pensar as empresas e a paz além do dinheiro – ou mesmo, apesar do dinheiro.

São vários os exemplos de empresas que criam empregos e oportunidades de negócio com o objectivo de contribuir para a consolidação da paz.

Um aspecto primeiro a ter em conta é o facto de muitas destas iniciativas se centrarem na oferta de alternativas legais geradoras de rendimentos para veteranos – o que faz delas mais estratégias de manutenção da paz do que de criação da paz. O objectivo é mais evitar que sejam desencadeados novos ciclos de violência, e não tanto transformar a dinâmica que levou ao conflito.

O segundo aspecto a ter em conta é o facto de várias destas iniciativas estarem focadas nos aspectos puramente económicos, desconhecendo o potencial que pode ter, por exemplo,  um projeto que transforme as realidades locais para além da produção de rendimentos. É no sentido de ultrapassar estes aspectos que escolhemos discutir projetos de empreendimento para  paz.

O que caracteriza um empreendimento para a paz? É suficiente que inclua oportunidades de emprego para grupos tornados vulneráveis pelo conflito? É suficiente que desenvolvam um projeto produtivo, envolvendo estes grupos ou localizado num contexto afectado por um conflito armado? Um empreendimento para a paz não é limitado ao grupo populacional ou ao contexto, pese embora estes sejam dois importantes elementos a ter em consideração. Outro elemento fundamental é necessário: a capacidade transformativa da dinâmica, das condições e das realidades que resultaram do conflito ou que o tornaram possível.

Existem, pelo mundo, algumas experiências que assinalam este tipo de apostas. São disso exemplo os projetos produtivos promovidos por diversas organizações da ex-Jugoslávia e através dos quais, além da criação de oportunidades económicas, foi possível gerar processos inter-étnicos de reconciliação. [1]

Ainda que menos conhecidas, no nosso país existem igualmente experiências que mostram como é possível apostar na transformação de dinâmicas locais, através de esquemas de inversão social e de projetos produtivos que vão além da preocupação com os rendimentos ou com a procura de alternativas económicas. Encontramos vários exemplos em zonas que, como o departamento de Antioquia, foram o epicentro de desalojamentos em massa e que, hoje, estão progressivamente mais repovoadas, apesar das anteriores condições sociais precárias e das relações comunitárias enfraquecidas. [2]

A experiência colombiana, bem como as diversas experiências internacionais, demonstram que as iniciativas económicas que contribuem eficazmente para a paz trazem com ela uma mudança real na dinâmica e na narrativa que envolve o conflito.

Este artigo foi traduzido por Ana Milhazes, voluntária na democraciaAberta.

Assine nossa newsletter Acesse análises de qualidade sobre democracia, direitos humanos e inovação política na América Latina através do nosso boletim semanal Inscreva-me na newsletter

Comentários

Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy
Audio available Bookmark Check Language Close Comments Download Facebook Link Email Newsletter Newsletter Play Print Share Twitter Youtube Search Instagram WhatsApp yourData