Mas ninguém saiu ganhando. No entanto, quem mais perdeu foi o povo. Ele colocou seu corpo na linha de frente e perdeu vidas, além do custo humano de centenas de feridos e detidos. Há muitos corpos para curar e pessoas criminalizadas para apoiar. O governo também perdeu. Lasso se salvou do impeachment, mas perdeu a legitimidade e está mais vulnerável do que nunca. A paz pôs fim à violência armada, mas deixou a violência social intacta — talvez pior.
Que paz e a que preço?
Através do ato de paz, o governo concordou em baixar o preço do combustível em 15 centavos, revogar o Decreto 95 que amplia a exploração de petróleo na Amazônia e suspender o estado de exceção em várias províncias. A revogação do Decreto 95 talvez seja a única conquista importante. O resto do acordo é uma lista de boas intenções: "alterar" o Decreto 151, que concede licenças ambientais por dois meses ao invés de 15 para indústrias extrativas de mineração, "trabalhar" as políticas de subsídios, "garantir" consulta prévia, livre e informada (que já é um direito constitucional) e "emitir" uma declaração de emergência para o sistema de saúde.
A Conaie iniciou a greve com dez demandas, todas viáveis, que incluíam direitos coletivos ao consentimento prévio, moratória à mineração em mananciais, direitos trabalhistas e sanitários, moratória às pequenas dívidas, ajuda aos camponeses e maior investimento em saúde e educação. São demandas importantes e legítimas, que atingem diversos setores do povo equatoriano, não apenas os povos indígenas.
Mas praticamente todas essas demandas permanecem desatendidas. Vários grupos, como jovens, estudantes, feministas e trabalhadores, se uniram à causa indígena, justamente porque as demandas eram amplas e legítimas. No entanto, o diálogo começou tarde demais, depois de duas semanas, e na ausência do presidente Lasso, que em vez de enfrentar os problemas do país que lidera, enviou seus ministros, assim como os latifundiários enviaram seus capatazes para dialogar com os indígenas.
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