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O que a iniciativa da Venezuela no Amazonas diz sobre o governo brasileiro

A crise de Manaus destaca como o governo Bolsonaro despreza o norte e o nordeste, as regiões mais pobre do Brasil.

Danica Jorden
19 Janeiro 2021, 4.00
Funcionários do Cemitério Parque de Manaus
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Sandro Pereira/PA Images

Um importante suprimento de oxigênio e 107 médicos da Escola Latino-Americana de Medicina de Caracas, Venezuela, chegaram a Manaus, capital do Amazonas, no sábado (16). A iniciativa vem depois de surgirem relatos de que a cidade de 2,3 milhões habitante havia ficado sem oxigênio para tratar pacientes com Covid-19. A situação deixou os trabalhadores da saúde sem nenhum recurso a não ser administrar morfina para aliviar seu sofrimento enquanto morriam por asfixia.

O oxigênio viajou por terra em oito caminhões, cada um carregando 18 toneladas (80 mil litros) do precioso gás, em uma viagem de 1.500 km de Puerto Ordaz, próximo à costa atlântica da Venezuela. O governador do Amazonas também providenciou para que caminhões brasileiros viajassem na direção oposta para buscar tanques de oxigênio nos reservatórios venezuelanos, em uma negociação direta que contornou o governo de Jair Bolsonaro, que insiste em negar a gravidade da Covid-19.

O presidente brasileiro deixou claro o seu descaso. "Lamento os mortos, lamento, mas todos nós vamos morrer um dia", declarou, antes de acrescentar, deslizando sua homofobia característica, que o Brasil tem que "deixar de ser um país de maricas".

A crise de oxigênio se some aos apagões que assolam o Amapá e ao genocídio dos povos indígenas

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As estritas quarentenas impostas pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro, quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 no país em março – além de seu relativo isolamento em decorrência dos embargos impostos ao país por todo o mundo –, explicam por que a Venezuela tem uma das taxas mais baixas de contágio pelo novo coronavírus na América Latina e está em condição de doar oxigênio. No entanto, o líder da oposição, Juan Guaidó, caracterizou a iniciativa de Maduro de manobra política. O Reino Unido e os Estados Unidos reconhecem Guaidó como o líder legítimo da Venezuela, enquanto a União Europeia anunciou, em 6 de janeiro, que não o reconhece mais.

O ministro das Relações Exteriores do governo de Maduro, Jorge Arreaza, insiste que enviar oxigênio e médicos para Manaus é um ato de solidariedade. “É um ato humanitário que deve estar acima das divergências políticas. O que nos une é o objetivo de salvar vidas. Esperamos que o governo brasileiro compreenda a importância de ter um bom relacionamento com os vizinhos.”

A crise de Manaus destaca como o governo Bolsonaro despreza o norte e o nordeste, as regiões mais pobre do Brasil. A crise de oxigênio se some aos apagões que assolam o Amapá e ao genocídio dos povos indígenas para abrir caminho para a exploração industrial da Amazônia.

O México e a iniciativa Covax

Ao mesmo tempo, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, aceitou o apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e reduziu o ritmo de compra de doses da vacina Pfizer contra a Covid-19 para evitar "acúmulo" e disponibilizar a vacina em países mais pobres através da iniciativa Covax, da OMS. "Em qualquer caso", explicou AMLO, "isso não muda nossos planos porque já estamos procurando outras vacinas além das da Pfizer (...) por isso ainda teremos vacinas suficientes".

De acordo com o Centro de Inovação para Saúde Global da Universidade Duke, 190 países assinaram a iniciativa Covax. Apenas cinco países não o fizeram: Rússia, Cazaquistão, Belarus, Groenlândia e Estados Unidos.

O objetivo da Covax é fornecer vacinas suficientes para cobrir 20% da população de países de baixa renda, como Afeganistão, Eritreia, Mauritânia e Honduras. As nações ricas já firmaram contratos para comprar além do suficiente para seus cidadãos. O Canadá comprou cinco vezes o que precisa, incluindo vacinas que podem não ser aprovadas, mas seu presidente disse que entregará insumos não utilizados a países pobres.

O Centro de Inovação para Saúde Global da Universidade Duke explica: "Os países de alta renda têm atualmente 4,2 bilhões de doses confirmadas, os países de renda média alta têm 1,2 bilhão de doses e os países de renda baixa têm 495 milhões de doses. Não encontramos evidência de nenhum acordo direto por parte de países de baixa renda, o que sugere que dependerão totalmente da imunização de 20% da população através da iniciativa Covax”.

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