No Brasil, uma menina de 10 anos teve que entrar no hospital no porta-malas de um carro para se proteger de grupos religiosos. Depois de anos de estupro nas mãos do tio, a menina engravidou e precisou de um aborto legal.
Na Colômbia, nove jovens, incluindo cinco menores, foram mortos ao serem baleados durante um churrasco por um grupo de desconhecidos. Foi o segundo massacre de jovens no país em menos de uma semana, totalizando 18 vítimas em quatro dias.
No México, um agente da polícia foi pego com uma menina de 10 anos nua em seu carro. Uma série de irregularidades legais em seu caso desencadeou uma onda de indignação no país.
Esta é apenas uma das notícias dos últimos dias. A América Latina está falhando com suas crianças.
Brasil: dupla vitimização
A menina de 10 anos de idade foi ao médico no começo do mês devido à dores abdominais. Ao confirmar a notícia de sua gravidez, ela disse às autoridades que era abusada desde os 6 anos de idade por seu tio, parceiro de sua tia. Ela acrescentou que nunca denunciou o crime por ter recebido ameaças.
O caso foi noticiado imediatamente, mas este era apenas o começo do processo de dupla vitimização que a criança sofreria.
A interrupção de uma gravidez é permitida pela legislação brasileira em casos de risco à vida, gravidez resultante de estupro e quando há anencefalia fetal. Na sexta-feira (14), a Justiça do Estado do Espírito Santo autorizou o procedimento no caso. Entretanto, o Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, ligado à Universidade Federal do Espírito Santo, negou o pedido de interromper a gravidez da menina.
Ela teve que viajar para Pernambuco, a mais de 1.600 km de São Mateus, ou 24 horas de carro, para ter acesso a um direito legal.
E as falhas do Estado e da sociedade brasileira não parariam por aí. A militante bolsonarista Sara Giromini, também conhecida como Sara Winter, divulgou o nome da vítima – cuja identidade é protegida por lei – e o nome do hospital onde o procedimento deveria ocorrer em um vídeo publicado em suas redes sociais no domingo (16) para incentivar protestos.
Na segunda-feira (17), a menina teve que se esconder para entrar no hospital enquanto o médico, Olimpio Moraes, atraía fanáticos religiosos e políticos para o portão principal, uma vez que os manifestantes haviam se separado e bloqueado todas as entradas para impedir que a menina realizasse o procedimento.
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