“Com base no que foi alcançado, procuraremos realizar uma transformação pacífica e organizada, mas não menos profunda que a Independência, a Reforma e a Revolução. Não fizemos todo esse esforço por meras mudanças sobretudo cosméticas, muito menos para manter mais do mesmo"- Andrés Manuel López Obrador, 28 de junho de 2018
Em seu último discurso durante a eleição presidencial mexicana de 2018, quando sua vitória já era praticamente certa, Andrés Manuel López Obrador (conhecido como AMLO, por suas iniciais) prometeu que seu governo embarcaria na "Quarta Transformação" do México. As três anteriores são, sem dúvida, a Guerra da Independência (1810-1821), a Guerra da Reforma (1857-1861) e a Revolução Mexicana (1910-1920).
Já se passaram quase dois anos, e o apelido "Quarta Transformação" provou-se parcialmente adequado, mas pelas razões erradas. Como presidente, AMLO mostrou menos interesse em governar o país do que em transformá-lo. Estes não são a mesma coisa. Se o objetivo do governo é responder às demandas sociais, o objetivo da transformação é encontrar um lugar na história.
Os políticos envolvidos ativamente no governo de seus países devem enfrentar o princípio econômico mais básicos: que vivemos em um mundo de escassez. Isso significa que precisam equilibrar suas promessas eleitorais populistas com recursos orçamentários limitados.
Uma maneira de fazê-lo é priorizando as demandas sociais de acordo com seu nível de urgência e retorno eleitoral. AMLO não é excepção nesse aspecto. Em seus primeiros 18 meses no cargo, ele já alocou grandes quantias de dinheiro público para projetos de infraestrutura – uma nova refinaria de petróleo em seu estado natal, Tabasco – e programas de bem-estar para beneficiar e expandir sua base política – por exemplo, Jóvenes Construyendo el Futuro, um programa de transferência de renda para jovens desempregados. O que diferencia AMLO de outros políticos é que seus projetos de infraestrutura e assistência social não devem ser vistos simplesmente pelo que são: respostas limitadas do governo às demandas sociais. Em vez disso, eles devem ser interpretados como sinais de que sua "Quarta Transformação" está avançando.
Transformar um país é uma tarefa mais benigna para os políticos do que governar, porque os libera da lei de ferro da escassez. Em tempos de transformação, os políticos se colocam em um tempo e um lugar onde tudo precisa ser refeito e, portanto, sem limitações de recursos. Essa ideia retoma o lema chileno durante sua recuperação após o terremoto de Valdivia em 1960: "Porque não temos nada, então faremos tudo".
Hoje, o México também está sofrendo as consequências de um terremoto, do tipo eleitoral. Em 2018, o sistema partidário, em vigor desde 1991, entrou em colapso, enviando ondas de choque por todo o país. Atento a essa situação, AMLO não poupa gastos para estabelecer uma nova ordem política: em seu primeiro ano no cargo, AMLO gastou metade das economias do governo acumuladas nos últimos 20 anos através do Fundo de Estabilização da Receita Orçamentária.
Como AMLO está preocupado em transformar o país em vez de governá-lo, algumas de suas decisões políticas podem parecer estranhas de longe. Tomemos, por exemplo, o cancelamento em 2018 do novo e parcialmente construído aeroporto internacional da Cidade do México, Texcoco. Comumente referido na imprensa simplesmente como Texcoco, esse era, na época, o maior projeto de infraestrutura da América Latina e o projeto do ex-presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018).
Comentários
Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy