Soma-se a esta crise a desvalorização permanente do peso argentino (PAR) em relação ao dólar, o que torna cada dia mais difícil a sobrevivência de todos os argentinos. A realidade é tão premente que o dólar blue, o dólar americano que se compra no mercado negro e informal da Argentina, já é cotado e oferecido abertamente. O preço oficial oscilou em meados de março em torno de 200 PAR por dólar, enquanto os cueveros (vendedores ambulantes do dólar blue) pagavam cerca de 370 PAR por dólar.
"Os argentinos pensam verde", diz um velho ditado nacional, já que o dólar é a principal moeda de poupança na Argentina há décadas. Apesar de as restrições implementadas pelo governo limitarem a quantidade de dólares que as pessoas podem comprar no mercado oficial, a demanda pelo dólar blue no mercado negro continua disparando.
Segundo o Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA), a pobreza monetária na Argentina atinge 43,1% da população e a indigência 8,1%. Agravando ainda mais a situação, duas em cada três crianças argentinas são pobres ou privadas de direitos básicos como proteção social, acesso à educação, moradia ou água, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Assim, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INDEC), no primeiro semestre de 2022, 51,5% das crianças na Argentina viviam na pobreza e em domicílios cuja renda não é suficiente para cobrir a cesta básica de alimentos e serviços. Além disso, 66% da população infantil, o que equivale a 8,8 milhões de crianças, é privada de seus direitos básicos. O crescimento da pobreza na Argentina é inversamente proporcional à contínua queda das exportações e ao aumento da dívida pública, que não parou nos últimos anos.
Outro fator que leva o país a um ponto crítico é a seca que há três anos assola o interior da Argentina, um dos principais produtores de alimentos do mundo. Segundo o relatório da Bolsa de Valores de Rosario, a seca causou perdas de cerca de US$ 19 bilhões, o que significa que custou três pontos do Produto Interno Bruto (PIB) argentino estimado para 2023.
A situação tem provocado uma queda nas exportações de grãos (trigo e milho), o que não só afeta o campo, mas também corrói a arrecadação de impostos do Estado. Finalmente, a pecuária também se vê afetada devido à diminuição de alimentos disponíveis para os animais. De acordo com a Direção Nacional de Emergência e Risco Agrícola, no seu relatório de fevereiro deste ano, “existem mais de 179 milhões de hectares em risco, e 24,3 milhões Cabeça de gado".
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