O estudo não considera como a condição dos participantes da pesquisa como funcionários das delegacias pode ter influenciado suas opiniões.
Uma segunda questão é que o estudo não incluiu entrevistas com sobreviventes de violência de gênero ou suas famílias ou redes de apoio. Também não incluiu entrevistas com pessoas das comunidades que as delegacias atendem.
Uma terceira limitação (que os autores reconhecem) é que o estudo não examina se essas delegacias reduziram as taxas de criminalidade, estatísticas de violência doméstica ou apreensão de ordens de violência.
Além disso, não são fornecidos dados sobre fatores importantes para avaliar as reivindicações de benefício das delegacias da mulher em outros assuntos relacionados à violência doméstica. Por exemplo, se as delegacias da mulher aumentam o acesso a apoio legal ou se melhoram a capacidade de uma pessoa denunciar a violência.
Por fim, nenhum dos estudos analisa se houve redução nos índices de criminalidade ou nas estatísticas de violência doméstica, feminicídio ou mandados de apreensão de violência.
É difícil avaliar a eficácia das delegacias da mulher sem esses dados.
Estudos apontam que delegacias da mulher não funcionam
Avaliações das delegacias da mulher tiveram resultados inconclusivos. Por exemplo, um recente resumo de estudos na Índia descobriu que “delegacias só para mulheres não melhoraram os serviços para vítimas de violência de gênero”.
O estudo não descobriu nenhuma melhoria na delação ou responsabilização de agressores em relação às delegacias de polícia da mulher na Índia.
E há evidências que sugerem que as delegacias da mulher não estão livres de discriminação e violência, já que existem denúncias de transfobia.
Um artigo do jornal de língua espanhola Delito y Sociedad, em 2016, relatou que policiais do sexo feminino associadas à delegacia da mulher de La Plata (província de Buenos Aires, Argentina) prenderam e revistaram publicamente dez mulheres transgênero. As mulheres disseram que foram ameaçadas de serem baleadas caso se movessem. Elas afirmaram que quatro delas foram detidas por razão nenhuma além de sua visibilidade como mulheres trans.
O evento levou à condenação generalizada da delegacia da mulher de La Plata por grupos de defesa de pessoas trans, especialmente porque a equipe da delegacia na época incluía uma mulher trans.
Há também a questão da morte de Úrsula Bahillo que indica que essas delegacias nem sempre são eficazes na proteção de pessoas que sofrem violência doméstica.
Bahillo denunciou a violência de seu namorado policial à delegacia da mulher em pelo menos 18 ocasiões diferentes. Ela morreu três dias depois de denunciar seu caso a uma delegacia da mulher na província de Buenos Aires em fevereiro deste ano.
O La Capital informou que a família de Bahillo afirmou que a delegacia da mulher “não fez nada”.
BBC Mundo noticiou:
O caso de Úrsula Bahillo ficou famoso pelas repetidas vezes que ela pediu ajuda, denunciou seu agressor [à polícia] e não foi ouvida.
Estudos sobre policiamento realizados na Austrália e no Reino Unido sugerem que simplesmente aumentar o número de policiais do sexo feminino nunca será suficiente para melhorar o policiamento discriminatório.
Apesar da liderança feminina no policiamento em Queensland, ainda há relatos de sexismo e racismo entre a polícia, inclusive instancias de policiais postando nas redes sociais que as mulheres mentem sobre violência doméstica.
E quanto as mulheres Indígenas e pretas?
Encontramos muito poucos estudos sobre as experiências de mulheres pretas e Indígenas com delegacias da mulher, além de um relatório de 2010, sobre a América Latina, que observou:
As mulheres Indígenas e afrodescendentes têm acesso limitado [às delegacias da mulher] porque poucos operadores vêm de ou entendem essas culturas e poucos falam suas línguas.
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