Nesse sentido, gritos de ‘sem partido’ ou ‘nem esquerda, nem direita’ promoveram a despolitização dos manifestantes pela vilanização do sistema político partidário e da política. Projetos políticos como o de Jair Bolsonaro começaram a ser desenhados em 2013, alimentando discursos antipartido, antipolítica e antipetistas.
Diferente da ‘Escola sem Partido’ e das ‘Jornadas de Junho’, o ‘sem partido’ de Bolsonaro não mascara seu conservadorismo, uma vez que o discurso ultradireitista foi abertamente usado para sua eleição. O perigo existe, então, na vilanização da estrutura partidária, da negação da importância dos partidos políticos e com isso, do sistema democrático partidário.
Um dos maiores legados da redemocratização brasileira é o estabelecimento do pluripartidarismo na constituição federal, uma vez que em períodos de violência autoritária, a existência ou a autonomia partidária foi negada. Como o reconhece o próprio Tribunal Superior Eleitoral brasileiro:
“Na nossa experiência histórica, as noções de partidos políticos e de democracia (...) estão intimamente ligadas, pois a divulgação, pelos partidos, de diversas doutrinas filosóficas e políticas existentes no mundo tem fomentado o debate e a busca de soluções para as diversas mazelas que afligem nossa sociedade, favorecendo a formação de opinião sobre as principais questões que envolvem o país e o amadurecimento do eleitor para o exercício da cidadania.
Desde os tempos de parlamentar, Bolsonaro flerta abertamente com o autoritarismo – seja em posturas necropolíticas, na defesa de torturadores, ou em interferências diretas no governo. Porém, ao seguir governando ‘sem partido’, mostra, de fato, uma postura de afronta direta à histórica luta democrática brasileira e aos direitos políticos enquanto componentes da cidadania.
Um presidente sem partido minimiza o papel da mobilização política e alimenta a despolitização e a antipolítica em sua base, enquanto celebra a erosão das próprias estruturas democráticas que o levaram ao poder.
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