A regulamentação negligente no Brasil há muito oferece a chance de criminosos “lavar” o ouro que foi extraído ilegalmente no mercado legal. Em meados de fevereiro, a polícia descobriu uma suposta operação ilegal de contrabando de ouro no valor de US$ 800 milhões. Os envolvidos foram acusados de usar documentação falsa para esconder a origem do ouro retirado ilegalmente do estado do Pará, no norte do país.
Mas a implementação da Resolução nº 129 da Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pela fiscalização das minas, iniciou o processo de estreitamento do comércio de ouro no Brasil, acrescentando uma camada adicional de segurança contra a lavagem de metais preciosos de origem ilegal.
Anteriormente, os compradores de ouro só precisavam confiar na "boa fé" dos vendedores de ouro – não havia obrigação legal de provar que o ouro sendo negociado era de origem legal. Recibos em papel também facilitam a fraude..
Com a promulgação da Resolução nº 129, os compradores de ouro agora têm sistemas para verificar se o ouro que compram não foi extraído ilegalmente. Agora, o governo brasileiro está considerando introduzir notas fiscais eletrônicas para vendas de ouro e metais preciosos para dificultar muito a falsificação.
As ramificações desta nova legislação podem ser de longo alcance. De acordo com o Instituto Escolhas, um think tank brasileiro que estuda o desenvolvimento sustentável, 98% do ouro extraído em territórios indígenas da Amazônia entre 2018 e 2020 apresentou indícios de ilegalidade, o que significa que foi retirado de áreas de mineração designadas ou falsamente registrado como proveniente de áreas próximas áreas.
Mas, embora a regulamentação seja um passo na direção certa, os problemas orçamentários das agências estatais terão que ser resolvidos para que a legislação tenha o impacto pretendido. A ANM teve dificuldades no passado devido à falta de financiamento. Em 2021, a agência empregou apenas 250 inspetores para policiar quase 35 mil operações de mineração em todo o país. O acompanhamento dessas medidas adicionais só aumentará a carga de trabalho.
Apesar da promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de reverter a explosão da criminalidade na Amazônia, ocorrida durante a gestão de seu antecessor Jair Bolsonaro, em um contexto de preços históricos do ouro, parar a mineração ilegal pode exigir um aumento drástico no recursos do estado.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês e espanhol no InSight Crime.
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