Os registros de crianças e idosos Yanomami famigerados mais uma vez colocam o foco no Brasil e sua gestão de suas populações indígenas. Embora imagens de pessoas vulneráveis em alto nível de desnutrição devam sempre nos horrorizar, a situação não deve surpreender ninguém.
A crise que afeta os Yanomami é a definição de uma tragédia anunciada. A fome e a falta de atendimento médico, que resultaram na morte de quase 600 crianças nos últimos quatro anos, infelizmente ilustram preocupações, frequentemente tidas como exageradas, sobre as consequências de votar em alguém como o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Habitantes da maior reserva indígena do país, os Yanomami viram a degradação de seu território durante o governo Bolsonaro. Em sua campanha em 2018, o ex-presidente prometeu expandir a mineração na Amazônia, que considera ser “muita terra para pouco índio".
E a cumpriu. Na última década, o garimpo em terras indígenas aumentou 632%. A invasão de garimpeiros na TI Yanomami foi o principal fator que levou ao colapso dos meios de subsistência da população indígena local, levando à situação de fome extrema que agora veio à tona.
O governador de Roraima e aliado de Bolsonaro, Antonio Denarium, além de negar o papel da mineração, defendeu que a solução para a crise é promover a "evolução" dos indígenas. “As comunidades indígenas, os povos indígenas, também têm o desejo de evoluir e ter o seu trator, ter o seu carro, ter parabólica, atendimento de saúde, eles querem também uma educação de boa qualidade”, defendeu.
Além da fome e da desnutrição, os Yanomami também são vítimas da negligência sanitária. Evidências preliminares indicam possível desvio de recursos destinados às unidades de saúde indígena do estado. Como consequência, centenas de crianças Yanomami foram vítimas de doenças tratáveis e evitáveis, como diarreia, malária e infecção por parasitas. Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, investiga a possibilidade de a falta de abastecimento na TI ter sido deliberada.
O papel do Exército
Para além de qualquer investigação judicial em busca de culpados específicos, a catástrofe humanitária tem suas raízes na estrutura política brasileira que se desenhou diante de nossos olhos.
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