Apesar de sua bravura, o apoio popular a Bolsonaro está em declínio desde o início do surto da Covid-19. A doença se espalhou incontrolavelmente – o Brasil agora registra o maior número de enfermeiras que morreram como resultado do vírus em todo o mundo – e o desânimo veio logo atrás. Com o presidente desafiando medidas de saúde razoáveis, ministros de alto nível foram demitidos ou se demitiram, antigos aliados se voltaram contra ele, o apoio de sua base nas classes médias começou a cair, e os pedidos para sua demissão ou impeachment cresceram. Mesmo antes do diagnóstico positivo do presidente, ele enfrentou pelo menos 48 acusações passíveis de impeachment. Contando a partir do mês passado, 55% dos brasileiros disseram que gostariam de vê-lo afastado antes das próximas eleições.
Por mais terrível que a situação possa parecer, o presidente não vai abrir mão do cargo facilmente.
Nas últimas semanas, Bolsonaro passou seu tempo expandindo sua base no Congresso, onde, segundo informações, conta com o apoio de 40% dos parlamentares. Ele conquistou alguns, oferecendo pequenos cargos em seu governo. O presidente conquistou partes do establishment militar da mesma maneira: quase 3.000 militares foram nomeados para cargos governamentais. Isto é proporcionalmente mais do que a Venezuela, um país que suporta há anos uma ditadura militar. Bolsonaro conta igualmente com o apoio de seu núcleo duro, que representa cerca de 30 por cento da população, muitos deles armados. O presidente também tem o apoio de muitas polícias estaduais, tendo apoiado rebeliões ilegais no início de 2020. Recentemente, oficiais em São Paulo protegeram manifestantes pró-Bolsonaro que desrespeitaram as ordens de distanciamento social.
Mesmo assim, Bolsonaro enfrenta uma série de ameaças existenciais vindas não somente da crise descontrolada da Covid-19, mas de políticos opositores, da Suprema Corte e da Justiça Penal. Além da ameaça de impeachment por crimes de responsabilidade, ele pode ser condenado pela Suprema Corte por crimes comuns, ou ejetado pelo tribunal eleitoral nacional por suposta má conduta durante a campanha de 2018. Seus três filhos também enfrentam uma série vertiginosa de investigações criminais, inclusive por lavagem de dinheiro e crimes de ódio. O presidente está bem ciente de que o cerco está se fechando em torno de seu primogênito, Flavio, investigado pela polícia federal após meses de resistência. Enquanto isso, políticos da oposição estão se preparando para apresentar acusações por colocar o público em risco de infecção pela Covid-19. A associação de jornalistas também está preparando um caso para a Suprema Corte acusando o presidente de colocar suas vidas em perigo.
O populista pandêmico do Brasil está em uma encruzilhada. Por um lado, a Covid-19 poderia humanizar o Presidente. Sua sobrevivência também poderia convencer alguns de seus apoiadores sobre os méritos de sua cruzada de desinformação contra o vírus. No mínimo, o presidente espera que as controvérsias sobre a Covid-19 distraiam a opinião pública das crescentes investigações criminais contra ele, sua família e sua equipe. Como populistas em outras partes do mundo, Bolsonaro prospera na polarização e no tumulto - é o que energiza sua base e o que o mantém no poder. Mas há também uma chance de que a pandemia possa acelerar sua saída, dando lugar a uma resposta mais responsável e eficaz. O Brasil tem a capacidade pública, privada e sem fins lucrativos de conter e controlar o vírus. Para que isso aconteça, todavia, falta encarecidamente uma liderança competente.
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