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Documentos vazados revelam planos devastadores de Bolsonaro para a Amazônia

Um PowerPoint mostra que o governo Bolsonaro pretende usar discurso de ódio para isolar as minorias da Amazônia

Manuella Libardi
21 Agosto 2019, 12.01
Incêndios florestais vêm devastando a floresta amazônica há semanas. Dados de satélite mostram um aumento de 84% de focos de incêndio no mesmo período em 2018.
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Pixabay

Documentos vazados mostram que o governo de Jair Bolsonaro pretende usar o discurso de ódio do presidente brasileiro para isolar as minorias que vivem na região amazônica. Slides de PowerPoint, que o democraciaAbierta teve acesso, também revelam planos para implementar projetos predatórios que poderiam ter um impacto ambiental devastador.

O governo Bolsonaro tem como uma de suas prioridades habitar a região amazônica para prevenir a realização de projetos multilaterais de proteção à floresta, especificamente o projeto denominado “Triplo A”.

“Integrar a Calha Norte do rio Amazonas ao restante do território nacional, para se contrapor às pressões internacionais pela implantação do projeto denominado Triplo A. Para isso, projetar a construção da hidrelétrica do rio Trombetas e da ponte de Óbidos sobre o rio Amazonas, bem como a implementação da rodovia BR 163 até a fronteira do Suriname”, diz um slide da apresentação.

Entre as táticas citadas no documento está a de redefinir os paradigmas do indigenismo, quilombolismo e ambientalismo através das lentes do liberalismo e conservadorismo

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Um dos slides da apresentação.
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Em fevereiro deste ano, os ministros Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) teriam ido a Tiriós (PA) para discutir com líderes locais a construção de uma ponte sobre o Rio Amazonas na cidade de Óbidos, uma hidrelétrica em Oriximiná e a extensão da BR-163 até a fronteira do Suriname. Mas essa reunião foi cancelada.

Em outra reunião entre membros do governo, também em fevereiro, uma apresentação PowerPoint foi usada para detalhar as obras anunciadas pelo governo Bolsonaro para a região. Na projeção - que foi vazada ao democraciaAbierta - fica claro que a habitação da região amazônica é importante para que projetos de preservação não possam ser desenvolvidos.

O slide é claro. A estratégia, antes de começar a depredação, vai acontecer através do discurso. O discurso de ódio de Bolsonaro já está dando sinais de que o plano está funcionando. A Amazônia está em chamas. Está em chamas faz três semanas e nem mesmo quem mora no Brasil sabia. Graças aos esforços de comunidades locais com o auxílio das redes sociais, a realidade está finalmente viralizando.

A reação dos internautas não é sensacionalismo. O Brasil teve 72 mil focos de incêndio só neste ano, metade dos quais acontecem na Amazônia. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que seus dados de satélite mostraram um aumento de 84% em relação ao mesmo período de 2018.

Atacar organização não governamentais faz parte da estratégia do governo Bolsonaro para a Amazônia. Segundo mostra outro slide da apresentação, o governo afirma que existe atualmente uma campanha globalista que “relativiza a Soberania Nacional na Bacia Amazônica”, usando uma combinação de pressão internacional assim como “opressão psicológica” tanto externa como interna que usa como armas ONGs ambientalistas e indigenistas, além da mídia, para fazer pressões diplomáticas e econômicas. Essa campanha mobiliza minorias indígenas e quilombolas para agirem com o apoio de instituições públicas a nível federal, estadual e municipal. O resultado dessa campanha restringe “a liberdade de ação do governo”.

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O item 3 do documento aponta que o Calha Norte serve como arma para combater "pressões internacionais" pela implementação do projeto Triplo A.
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Essas são, segundo o slide, “as novas esperanças para a Pátria, Brasil Acima de Tudo!”

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Slide usado durante a apresentação.
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Então não é de surpreender que a resposta de Bolsonaro em relação aos incêndios venho em forma de ataque às ONGs. Na quarta-feira (21), Bolsonaro disse acreditar que organizações não governamentais poderiam estar por trás dos incêndios como uma tática de gerar atenção negativa para o seu governo.

Bolsonaro não citou nomes de ONGs e, quando questionado se há evidência para as alegações, disse que não há registros escritos sobre as suspeitas. Segundo o presidente, as ONGs podem estar retaliando contra os cortes de verba de seu governo. O seu governo cortou 40% dos repasses internacionais que eram destinados às organizações, ele afirmou na saída do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre a onda de incêndios na região.

“Então, pode estar havendo, sim, pode, não estou afirmando, ação criminosa desses 'ongueiros' para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, afirmou Bolsonaro.

Portanto, parte da estratégia do governo de burlar essa “campanha globalista” é depreciar a importância e a voz das minorias que vivem na região, e transforma-las em inimigos. Entre as táticas citadas no documento está a de redefinir os paradigmas do indigenismo, quilombolismo e ambientalismo através das lentes do liberalismo e conservadorismo com base nas teorias realistas. Essas são, segundo o slide, “as novas esperanças para a Pátria, Brasil Acima de Tudo!”

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*Nota: Uma versão deste artigo disse que a apresentação foi usada em uma reunião entre ministros. Essa reunião foi cancelada. Os documentos foram usados em outra reunião entre membros do governo na mesma semana que a outra reunião teria acontecido.

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