De acordo com dados compilados a partir de 2018 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) sobre mulheres mortas por seu parceiro ou um membro da família, a região das Américas é a segunda mais fatal para as mulheres, depois da África. Em média, 3,1 mulheres africanas em cada 100.000 são vítimas de feminicídio, e nas Américas a taxa é de 1,6 por 100.000 mulheres.
O estudo de 2016, "A Gendered Analysis of Violent Deaths" (Um estudo de gênero sobre mortes violentas), relatou que catorze dos 25 países com as maiores taxas de femicídios são latino-americanos.
Não há dúvida de que a situação é crítica, mas a ausência de dados padronizados, a divergência de leis entre os diferentes países da região e a subnotificação de casos, entre outras barreiras, dificultam a prevenção e a aplicação da justiça em casos de violência de gênero, incluindo o feminicídio.
Em novembro de 2019, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) anunciou uma ótima notícia: a CEPAL está criando um sistema de registro de feminicídios que cobrirá toda a América Latina e o Caribe, para que os dados futuros possam ser padronizados. Mas ter números melhores para entender o quadro geral do problema é apenas o começo.
Feminicídio, uma consequência da desigualdade
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento identifica a desigualdade como uma das principais causas da violência de gênero. Essa realidade se reflete nos rankings: países mais desiguais também têm taxas desproporcionalmente altas de feminicídio e violência contra as mulheres.
Em muitos lugares, especialmente em países de baixa e média renda, a violência de gênero é reforçada por leis e normas sociais discriminatórias que minam as oportunidades de educação, renda e independência de mulheres e meninas.
Como exemplo, pelo menos um terço das vítimas de feminicídio na Colômbia entre 2014 e 2017 tinha procurado proteção da justiça, sugerindo que as autoridades não estão garantindo a segurança das mulheres com alto risco de feminicídio.
Quando os casos relatados chegam à justiça, eles raramente terminam em condenação. De acordo com o mesmo artigo do El Tiempo, dos 76 casos de feminicídio registrados pela Procuradoria Geral, apenas um quarto resultou em condenações do agressor e apenas 13 tiveram uma audiência sobre as acusações.
Não ver que a causa da violência de gênero e do feminicídio é baseada na desigualdade leva a decisões infrutíferas. Na Colômbia, por exemplo, ainda esta semana o Senado está debatendo a implementação de prisão perpétua para casos de estupro contra crianças e adolescentes, buscando uma solução criminal e punitiva para um problema que é estrutural e histórico.
Assim como a pandemia de Covid-19 vem exigindo medidas extraordinárias para conter o vírus, a pandemia de violência de gênero agora exige que forneçamos proteção e abrigo às vítimas com urgência.
Mas se realmente quisermos combater o problema de forma eficaz, teremos que exigir intervenções através de políticas de longo prazo que mudem as normas sociais discriminatórias e que fechem as brechas de gênero, seja no nível educacional, econômico ou social.
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