A Guatemala pegou fogo no fim de semana. Literalmente. Milhares de manifestantes saíram às ruas de cidades de todo o país no sábado (21) e domingo (22), uma mobilização que culminou com um grupo ateando fogo a uma ala do edifício do Congresso.
O estopim dos protestos foi um polêmico projeto de lei orçamentária para 2021 – o maior da história da Guatemala, alcançando quase US$ 13 bilhões – que propunha cortes financeiros para assistência alimentar a mães e crianças, para o sistema hospitalar do país e para o sistema judicial. Paralelamente, este orçamento aumentou a contribuição para a alimentação de deputados e funcionários públicos, bem como a contribuição para infraestruturas, beneficiando empresas e construtoras.
Em um país com a sexta maior taxa de desnutrição crônica do mundo, afetando cerca de metade de todas as crianças menores de cinco anos, o corte de US$ 25 milhões para combater a desnutrição causou indignação em todo o país, forçando o Congresso a aprovar uma emenda para restaurar esses fundos.
No entanto, a retificação não foi suficiente para apaziguar a ira do povo. A lei orçamentária foi apenas a gota d'água em um cenário de insatisfação social que já vinha ganhando força nos últimos anos.
Dois furacões em duas semanas
A velocidade com que o Congresso aprovou o orçamento para 2021 contrasta com a inação do governo durante as enchentes causadas pelas chuvas torrenciais causados pelo furacão Iota, que assolaram o Caribe e a América Central nas primeiras semanas de novembro.
Tempestades tropicais deixaram milhares de guatemaltecos desabrigados, enterraram mais de 100 indígenas em deslizamentos de terra e destruíram plantações de subsistência em vastas áreas do país.
Iota atingiu a costa enquanto o furacão Eta ainda causava desastres em toda a região. Juntos, os furacões deixaram pelo menos 53 mortos, 94 desaparecidos, mais de 100 mil desabrigados e 211 mil evacuados na Guatemala.
Muitos setores da sociedade julgaram que o governo de Alejandro Giammattei – um líder de direita – não ofereceu a ajuda necessária às populações atingidas, o que já havia causado indignação entre os cidadãos. Giammattei foi especialmente criticado pela incapacidade das autoridades de proteção em alertar as populações em risco.
Além disso, pouco antes das tempestades, Giammattei vetou um projeto de lei aprovado pelo Congresso para congelar as tarifas de serviços, como eletricidade, água, transporte, em um esforço para aliviar os efeitos da Covid-19.
Covid-19 e a crise econômica
Para fazer frente à pandemia, o Congresso aprovou um aumento de US$ 2,2 bilhões no orçamento de 2020 como auxílio emergencial para famílias de baixa renda.
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