Praticamente todos os entrevistados da pesquisa – mais de 98% – acreditam que o discurso de ódio promovido por políticos e candidatos contra os direitos LGBTQ contribui para o aumento da violência nas redes sociais. Um exemplo proeminente foi visto quando um vídeo de torcedores de futebol cantando músicas homofóbicas que incitavam Bolsonaro a matar pessoas LGBTQ foi divulgado no Facebook e no WhatsApp. E, no entanto, poucas pessoas LGBTQ denunciam esses atos à polícia ou buscam reparação legal (3%). Em vez disso, a maioria responde verbalmente ou online (79%), bloqueia os agressores (69%) e reporta conteúdo ofensivo para as próprias plataformas (62%). Um pequeno número chega a apagar seu próprio perfil (5%).
O baixo índice de denúncias oficiais por parte das pessoas LGBTQ é, com frequência, resultado dos preconceitos que enfrentam no sistema policial e de justiça. Uma pesquisa divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre o comportamento online da polícia constatou que 24% deles publicam conteúdo anti-LGBTQ em suas redes sociais pessoais e profissionais. Há considerável evidência anedótica do preconceito de policiais, promotores e autoridades judiciais contra a comunidade LGBTQ. Há ainda menos apoio fornecido à comunidade LGBTQ para se defender de ataques online.
Felizmente, alguns grupos de direitos digitais, incluindo Coding Rights e Internetlab, e organizações de mídia independente coma a Gênero e Número, começaram a trabalhar para promover a alfabetização digital entre as comunidades vulneráveis e para aumentar a conscientização sobre a violência online. A Coding Rights publicou recentemente um relatório sobre visibilidade online e violência contra a comunidade lésbica e promove oficinas de anti-vigilância digital, bem como orientação prática sobre como compartilhar fotos e vídeos online com segurança. O Internetlab e a Gênero e Número têm trabalhado em pesquisas para mapear desigualdades, violência e discurso de ódio contra comunidades vulneráveis. Da mesma forma, a SaferNet, uma ONG focada no combate aos crimes na internet, em parceria com o Ministério Público Federal, apoia a denúncia anônima de abusos e fornece informações e treinamento sobre segurança e proteção na Internet.
Enquanto isso, muitas pessoas LGBTQ estão ingressando na política para defender e proteger suas comunidades. Pelo menos três vezes mais candidatos trans (281) concorreram durante as eleições municipais de 2020 do que em 2016. Um número recorde de candidatos LGBTQ foi eleito durante as eleições de 2020, mais do que em qualquer outro momento da história do país. A forma como uma sociedade cuida de suas populações mais vulneráveis costuma ser um índice de sua civilidade. Quando se trata de pessoas LGBTQ, o Brasil tem um péssimo registro, tanto online quanto offline. Mas à medida que a consciência cresce e mais pessoas LGBTQ são eleitas para cargo públicos, o cenário pode começar a mudar.
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