Para completar a equação bolsonarista, em 4 de agosto a FUNAG realizou um evento alinhado com os valores conservadores-cristãos: uma palestra antiaborto intitulada ‘A importância da promoção de políticas internacionais de defesa da vida’, conduzida pela deputada federal conservadora Chris Tonietto, que como Eduardo Bolsonaro, é membro do Partido Social Liberal (PSL), antigo partido do presidente Bolsonaro.
O conteúdo de política externa promovido pela FUNAG não contém relação com as práticas de relações internacionais descritas pela constituição brasileira, dentre as quais a promoção da cooperação para o progresso humano, advocacia dos direitos humanos e a defesa contínua da integração latino-americana. Ao invés disso, a FUNAG está atualmente engajada em agradar as bases bolsonaristas ao repetir os mesmos jargões de extrema direita de sua campanha presidencial.
De fato, a FUNAG não possui poder de tomada de decisão na política externa brasileira, mas seus discursos, na realidade, evidenciam a perda de credibilidade internacional do país. Após o declínio de seu status internacional, a política externa brasileira volta-se a audiência doméstica em busca de credibilidade – essa é a política externa eleitoral brasileira.
As ações da FUNAG podem ainda contribuir para depreciar a projeção internacional construída pelo Brasil em seus governos anteriores. A opinião pública é um componente necessário na construção da política externa. Em democracias, a necessidade por responsabilidade (accountability) de governos contribui para a tomada de ações alinhadas com a opinião da maioria. Ainda, quando um órgão como a FUNAG molda perspectivas domésticas em direção a um anticomunismo radical, há um processo similar de engajamento da população na defesa de tais valores. E a promoção de temas vitais, como a cooperação internacional e a integração regional, são deixados para trás.
Em detrimento à anterior política externa ‘altiva e ativa’, a FUNAG não parece interessada em discutir o futuro do MERCOSUL e de outros foros regionais, ou a integração regional para mitigar os impactos da Covid-19 na América Latina. Mas sua audiência pode continuar tranquila, com a certeza de estar protegida da ameaça comunista.
Comentários
Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy