“Existem certas práticas que não estão escritas, que não são formais, que às vezes não são tão fáceis de mudar através da legislação. Em algum momento, elas vão colidir com algumas dessas normas e temos que estar super atentos, principalmente as organizações feministas e de mulheres, para que a norma não se torne ineficaz”, diz sobre o primeiro ponto.
Quanto ao segundo, a cientista política afirma que o risco é que “essas normas escritas na Constituição, que serão então fundamentadas na legislação ordinária, não se tornem burocráticas e não passem a fazer parte de um checklist. Para isso precisamos de uma sociedade civil ativa, envolvida, que monitore que as reais regulamentações tenham impacto”.
Os desafios do meio ambiente
Além dos aspectos marcantes em termos de igualdade e paridade de gênero, o texto proposto pela Assembleia Constituinte chilena agrega direitos digitais e uma perspectiva ecológica para enfrentar a emergência climática.
Este último ponto gerou grandes expectativas no debate público, uma vez que as propostas dos constituintes que promoviam uma "Eco-Constituição" muitas vezes entram em conflito com os objetivos do grande empresariado chileno e com as formas de condução da política econômica que o país tem sustentado nas últimas décadas.
O resultado de todo o debate foi um texto que termina com um modelo de concessões de mineração por meio de decisões judiciais e direitos de propriedade sobre a água, além de passar para um sistema de licenças administrativas revogáveis e caducáveis.
Desde o processo constitucional iniciado pela ex-presidente Michelle Bachelet, o meio ambiente aparece como uma questão transversal e prioritária para os cidadãos, lembra Claudia Heiss, doutora em Ciência Política e acadêmica da Universidade do Chile. Está não é uma preocupação recente dentro da sociedade chilena.
Por isso o atual texto segue essa linha, diz Heiss, que considera que ele contém "uma grande consciência ecológica e consciência das mudanças climáticas. E certamente tem consciência do desafio de acomodar a atividade empresarial e os problemas resultantes, que não são poucos, mas acho que estão indo na direção certa. A Constituição aborda a sustentabilidade e tenta encontrar uma forma mais harmoniosa de desenvolvimento.”
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