A Convenção Constitucional chilena encerrou suas funções no início do mês, resultando em um rascunho da nova Constituição que se esforça para sanar várias feridas do país. Entre elas está o profundo centralismo que marca a política, economia e desenvolvimento nacional. A concentração de poder na capital, Santiago, e a desequilíbrio em relação às demais regiões são uma das reivindicações mais sinceras dos cidadãos há décadas.
Com este diagnóstico em mente, o órgão constituinte se obrigou a incluir uma forte perspectiva regional e incorporou em seus primeiros regulamentos o dever de seus constituintes percorrerem todo o território para conhecer outras experiências fora de Santiago. Assim nasceram as “semanas territoriais”, que começaram como um período de sete dias por mês para que os constituintes retornassem aos seus distritos a fim de compartilhar com os cidadãos as principais ideias e responder dúvidas em relação processo.
Esse mecanismo já existe no atual Legislativo. Mas a Convenção Constitucional inovou ao estabelecer a obrigatoriedade de o plenário do órgão reunir-se em regiões distantes da capital pelo menos duas vezes — e ampliar a mesma exigência para algumas comissões, como a Comissão de Forma do Estado, responsável por produzir o “Estado regional” que substituiria o atual modelo de “Estado unitário”, caso os cidadãos aprovem a nova Carta Magna em setembro.
Lições aprendidas
A Convenção como um todo deixou a capital em duas ocasiões. Primeiro foram à região de Biobío, a 500 km ao sul do país e depois para a Região de Antofagasta, a 1.300 km. As comissões viajaram várias vezes.
Essas viagens e as atividades realizadas em cada área mostraram um Chile que se tornou invisível para muitos constituintes, oferecendo-lhes a oportunidade de conhecer os problemas que afetam os cidadãos nesses lugares específicos e de entender como integrar essas dores na proposta de uma nova Constituição.
Ingrid Villena, constituinte independente do Pueblo Constituyente, conta que uma das atividades que mais a marcou foi uma viagem a uma prisão na província de Arauco, na região de Biobío.
“Ao ver mulheres amamentando seus bebês lá, nos deparamos com a dura realidade de crianças nascem na prisão e que, depois de dois anos, se não tiverem familiares responsáveis, são encaminhados para residências do Serviço Nacional de Menores”, explica Villena. “Isso também nos motivou a considerar formas de evitar, na proposta, que crianças sejam privadas de liberdade desde o início de suas vidas”, detalha.
Movimentar-se pelo país também teve um papel importante para a Comissão Estadual de Formulários. Como conta a constituinte dos Movimentos Sociais Constituintes, Elisa Giustinianovich, quando a instância decidiu promover um “Estado regional”, os constituintes buscaram reafirmar essa decisão por meio do contato com os cidadãos.
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