A constituinte chilena Beatriz Sánchez atende o telefone enquanto viaja para Osorno, cidade no sul do Chile, onde se encontrará com um grupo de feministas interessadas em ler o rascunho da Constituição que os 154 constituintes prepararam durante 10 meses.
Em maio, a Convenção Constitucional concluiu a construção das normas constitucionais, encerrando as funções de mais de 60 constituintes que não irão participar de nenhuma das três últimas comissões do processo – Preâmbulo, Normas Transitórias e Harmonização. No entanto, esses constituintes têm agora uma missão talvez ainda mais difícil: divulgar os artigos e transmitir seu conteúdo para a população, que votará, em setembro, contra ou a favor da nova Carta Magna.
É justamente a falta de informação dos cidadãos que preocupa Sánchez. “Nós nos deparamos com muita desinformação. As pessoas nos fazem diversas perguntas que não têm nada a ver com o texto. Por exemplo, perguntam se é verdade que a partir de agora não vão ser mais proprietárias de suas casas, referindo-se ao artigo sobre direito à habitação”, afirma.
Baixo índice de leitura do rascunho
Pesquisas apontam baixos índices de informação do público sobre o processo e os 499 artigos que a Convenção Constitucional irá propor.
A Pulse Citizen, por exemplo, mostra que, no final de maio, pouco mais de 50% dos consultados haviam lido o rascunho da Constituição, embora apenas 10,5% a tivesse lido na íntegra. A outra metade da população (46,9%) não havia lido nenhuma parte do texto.
A esse processo se soma as fake news que proliferaram durante a Convenção Constitucional, complicando ainda mais o trabalho das representantes. Um exemplo inclui a falsa informação de que os constituintes mudariam a letra do hino nacional e a bandeira chilena.
"As pessoas estão muito assustadas, acreditam que o Estado vai desapropriar sua casa ou seus fundos de pensão", diz Valentina Miranda, do Partido Comunista. "Tenho que mostrar às pessoas que o direito de propriedade está constitucionalizado e é semelhante ao que existe nos países desenvolvidos. E que o problema era que o Chile tinha regulamentação demais dos direitos de propriedade na Constituição vigente”, afirma.
O risco de desinformação
"A desinformação circula desde o começo da campanha no Plebiscito de Entrada", explica Valentina Matus, editora geral do meio de comunicação chileno Contexto Factual, que dedica grande parte de suas publicações à verificação de informações que circulam na internet e outros meios de comunicação, com destaque para a Convenção Constitucional.
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