O mais comum é regulamentar a interrupção voluntária da gravidez sem justa causa através de leis, como fazem Uruguai e Argentina. As constituições não costumam incluir menções explícitas, porque os direitos sexuais e reprodutivos são manifestações de outros direitos e liberdades clássicos, como liberdade pessoal e integridade individual, o direito à saúde, privacidade, informação e igualdade, explica a advogada e acadêmica Verónica Undurraga.
Por isso, tribunais constitucionais em vários países reconheceram o direito de acesso ao aborto com base nos direitos gerais, como aconteceu no México e na Colômbia, que descriminalizou o aborto até 24 semanas de gestação no início deste ano.
Para Constanza Schonhaut, advogada e constituinte da Frente Ampla, a decisão está relacionada com os tempos de mobilização social e mudanças políticas que o país atravessa.
“O antecedente desta Convenção é o maio feminista, em que foram trazidos diferentes pontos sobre reivindicação dos direitos das mulheres," diz Schonhaut. "É nesse contexto que se dá a oportunidade da regulamentação a nível constitucional. Acreditamos que estabelece as diretrizes e os mínimos nesta área para orientar a legislação. Nesse sentido, representa um avanço para aprofundar os direitos”, atesta.
Como está o Chile hoje?
Em 2017, o Chile descriminalizou o aborto em caso de estupro, risco à vida da mãe ou patologia fetal incompatível com a vida fora do útero. O processo durou quase três anos e não avançou desde então, uma vez que o projeto de lei que buscava consagrar o aborto legal, seguro e gratuito foi rejeitado pela Câmara dos Deputados em novembro de 2021.
“Estamos no Chile, um país em que historicamente se tenta [regulamentar o aborto através de legislações] e as mulheres continuaram morrendo", argumenta Loreto Vidal. "Por isso, algumas coisas precisam ter status constitucional. O aborto é uma delas. Caso contrário, passaremos 20, 30 anos ou mais esperando a mesma coisa enquanto aprofundamos as dores, as mortes, o desespero e a impossibilidade de fazer uso real da nossa autonomia como mulheres”, declara.
Progressistas comemoram
A Assembleia Permanente pela Legalização do Aborto e as feministas por trás deste e de muitos outros movimentos sociais tiveram um papel fundamental nesse passo dado pelo Chile. Foi a assembleia que apresentou a iniciativa popular da norma "Será lei", que em apenas cinco dias alcançou as 15 mil assinaturas necessárias para ser levada a debate na Convenção Constitucional.
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