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Eleição nos EUA: os latinos tendem a ser democratas, mas Biden não pode tomar seu voto como certo

Candidatos democratas devem enfocar em política pública e abordar as questões específicas que afetam as comunidades latinas, se quiserem continuar a contar com seu apoio.

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1 Outubro 2020, 7.27
Um apoiador do presidente americano Donald Trump segura um cartaz dizendo "Latinos por Trump" durante um evento. O apoio dos eleitores latinos é crucial tanto para Trump quanto para o democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020
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Paul Hennessy/SOPA Images/SIPA USA/PA Images

Os latinos podem definir quem sentará no Salão Oval durante os próximos quatro anos. Com mais de 32 milhões de eleitores elegíveis, cidadãos de origem latino-americana constituem a maior minoria racial ou étnica do eleitorado dos Estados Unidos – pela primeira vez.

Isso representa cerca de 13% de todos os americanos que irão votar nas eleições de novembro. Os latinos podem muito bem moldar o resultado eleitoral em 2020, pois estima-se que votem em número recorde este ano, com 90% no Texas dizendo que pretendem votar no próximo mês. O que isso significa para eles e para os EUA?

Historicamente, os latinos se inclinam para o lado dos democratas. De acordo com o Pew Research Center, 63% dos eleitores latinos se identificavam com o Partido Democrata em 2019, contra 57% em 1994. Por outro lado, 29% se identificavam com o Partido Republicano no ano passado, uma porcentagem que se mantém igual desde 1994.

Isso não significa que o candidato democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, deva tomar o voto dos latinos como certo.

Eleitores latinos em estados-chave

Flórida

Os latinos estão longe de ser um grupo homogêneo. Os americanos de origem latino-americana vão desde argentinos judeus até colombianos negros e cubanos que deixaram seu país após a revolução de meados do século passado. Esta diversidade também se aplica ao papel que eles desempenham na arena política de seu país de adoção.

Na Flórida, os hispânicos representam o maior grupo minoritário, de acordo com dados de 2019 do Censo dos Estados Unidos. Os cubano-americanos constituem o maior grupo de origem latina do estado e, historicamente, tendem a ser conservadores e a apoiar o Partido Republicano.

Os cubanos entram como a terceira maior população, juntamente com os salvadorenhos, de origem hispânica nos EUA, de acordo com o Pew Research Center. A grande maioria deles, 66%, vive na Flórida. Comparativamente, apenas 5% dos cubano-americanos estão na Califórnia, o estado com a segunda maior concentração deste grupo, de acordo com a mesma fonte.

A Flórida tem o terceiro maior número de votos no colégio eleitoral, com 29, o mesmo número que Nova York, atrás apenas da Califórnia, com 55, e do Texas, com 38. Isso dá ao estado – e, portanto, aos cubano-americanos – um grande poder político.

Em 2016, 54% dos cubanos apoiaram o atual presidente Donald Trump, o que os torna duas vezes mais propensos a apoiar o candidato republicano do que os latinos não-cubanos.

Embora existam esforços bipartidários para dissuadir os cubanos na Flórida de votar para reeleger Trump, é pouco provável que tenham sucesso. Uma pesquisa da NBC News/Marist mostra Trump na frente de Biden entre os eleitores latinos no estado, por 50% a 46%. De fato, pesquisas recentes mostram que Biden está atrás entre os eleitores latinos da Flórida, mesmo quando comparado com seus predecessores, Barack Obama e Hillary Clinton.

Califórnia e Texas

Os dois outros estados de peso nas eleições, Califórnia e Texas, também têm grandes populações latinas. Ao contrário da Flórida, ambos têm o México como o país de origem mais comum entre esses grupos. E, ao contrário dos cubano-americanos, os mexicano-americanos tendem a ser democratas.

Para os latinos, políticas vêm antes da auto-identificação ideológica. E, para muitas comunidades dentro desses grupos, a assistência e os programas do governo têm sido vitais

Mas não por muito. No Texas, quase 38% dos latinos apoiam Trump enquanto 48% apoiam Biden, o que representa um aumento em relação aos 32% dos latinos que votaram no atual presidente em 2018. Além disso, também é mais do que John McCain e Mitt Romney, os dois candidatos republicanos anteriores, foram capazes de alcançar.

Na Califórnia, 30% dos latinos pretendem votar no Trump, de acordo com o Pew Research Center. Ao contrário do Texas, um significativo 63% disseram que votarão em Biden, o que não é surpreendente considerando que a Califórnia é um dos "estados azuis".

O que realmente importa

O que estes números nos mostram é que os latinos nos EUA são geralmente moderados. Em seu livro “Hispanics and the Future of America” (Hispânicos e o futuro dos EUA), Louis DeSipio argumenta que, apesar da cultura conservadora e religiosa de muitos latinos, questões como o aborto, a pena de morte e os papéis tradicionais de gênero – questões comumente relacionadas à retórica republicana – raramente motivam o engajamento político do grupo.

Questões como educação e serviços sociais são os que tradicionalmente asseguram a lealdade de muitos latinos ao Partido Democrata, especialmente os de ascendência mexicana e porto-riquenha, ele continua. Estes grupos tendem a favorecer um papel amplo do governo, que é frequentemente acompanhado por sua disposição de pagar impostos mais altos para financiar os serviços governamentais, observa DeSipio.

Para os latinos, políticas vêm antes da auto-identificação ideológica. E, para muitas comunidades dentro desses grupos, a assistência e os programas do governo têm sido vitais.

Como mostra uma pesquisa do Pew Research Center de setembro, a questão que mais preocupa os latinos em 2020 é a economia, seguida pelo sistema de saúde e a pandemia da Covid-19. Oito em cada dez votantes latinos classificaram a economia como muito importante para suas decisões nas próximas eleições. Eles também expressaram maior preocupação com a saúde do que a população votante em geral, com 76% dos eleitores latinos classificando-a como muito importante contra 68% dos eleitores em geral. O mesmo aconteceu com o surto de coronavírus, com 72% vs. 62%.

O aborto, em comparação, foi tido como muito importante por apenas 48% das mulheres latinas, uma porcentagem que caiu para 36% entre os homens latinos, de acordo com a mesma pesquisa.

Por que os latinos são ambíguos sobre Biden, mas 'sentiram o Bern'?

No início deste ano, durante as primárias, os latinos ajudaram a levar Bernie Sanders, um senador branco de 79 anos, de Vermont, à vitória em estados improváveis, particularmente no sudoeste. Os latinos também fizeram as maiores doações políticas a Sanders, dentre todos os candidatos democratas.

Os latinos nos Estados Unidos historicamente votam em menor número do que outros grupos, porque sentem que seu voto não tem peso

Uma razão por trás do forte apoio dos latinos à Sanders é a idade. O bloco eleitoral latino é esmagadoramente jovem. Enquanto a maioria dos brancos nos Estados Unidos tem 54 anos de idade, a maioria dos latinos tem 19 anos.

O que Sanders fez com muito sucesso foi abordar as questões relacionadas aos jovens latinos, enfocando especificamente na educação gratuita, cuidados com a saúde e imigração.

Os latinos nos Estados Unidos historicamente votam em menor número do que outros grupos. Isso não acontece porque eles não se preocupam por política. Pelo contrário, muitos latinos são engajados e acompanham a política, como o apoio esmagador a Sanders demonstrou. O problema? Eles sentem que seu voto não tem peso, segundo um estudo recente, de acordo com a Houston Public Media.

"Na verdade, descobrimos que os que podem mas não votam estavam seguindo as notícias políticas e seguindo a política no geral, mas eles tinham mais dificuldade em articular o que os partidos representavam e como o governo impacta diretamente em suas vidas", disse a pesquisadora Cecilia Ballí à publicação texana.

Os candidatos democratas devem enfocar em políticas públicas e abordar as questões específicas que afetam as comunidades latinas em todos os EUA, se quiserem continuar a contar com seu voto.

Biden tocar e dançar "Despacito" em comício e Clinton afirmar que ela sempre carrega pimenta em sua bolsa não é, e nunca foi, suficiente.

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