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Agora com Honduras, China aumenta sua influência na América Latina

A América Latina e o Caribe se tornaram campo de batalha entre China e Taiwan – e consequentemente entre China e EUA

democracia Abierta Manuella Libardi
31 Março 2023, 10.00
Em 25 de março, Honduras anunciou que deixaria de reconhecer a soberania de Taiwan para se aproximar da China
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Orlando Sierra/AFP via Getty Images

A decisão do governo de Honduras de romper com Taiwan em favor de uma aproximação com a China no último fim de semana reforça os esforços do gigante asiático para afirmar sua influência na América Latina.

Embora o domínio chinês na região tenha sido estabelecido desde a virada do século, a América Central permaneceu sob influência dos EUA até mais recentemente. Com a ação do governo de Xiomara Castro, Honduras consolida o êxito da China em sua estratégia de deslocar ainda mais os Estados Unidos de seu quintal.

A notícia ganhou as manchetes em todo o mundo por contribuir para a crescente tensão entre Taiwan e China, que atualmente domina o terreno movediço da luta deste último pela hegemonia mundial contra os Estados Unidos. Mas a decisão da presidente hondurenha não é inesperada.

Ao vencer as eleições de novembro de 2021, a esquerdista Castro defendeu o estabelecimento de acordos comerciais com a China, o que gerou uma resposta imediata da líder de Taiwan. Através do Twitter, Tsai Ing-wen parabenizou Castro e a lembrou da relação entre Honduras e Taiwan. “Estou ansiosa para trabalhar juntas para beneficiar as pessoas de nossos países e fortalecer a parceria de longa data #Taiwan-#Honduras”, escreveu Tsai.

América Central: deixando os EUA pela China

Até 25 de março, Honduras era um dos 14 países que reconhecem a soberania de Taiwan, território reivindicado pela China, embora nunca o tenha governado. Dos que restaram, metade são Estados da América Latina e do Caribe: Belize, Guatemala, Haiti, Paraguai, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas.

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Assim, a região muitas vezes ignorada pelas potências mundiais tornou-se o principal campo de batalha diplomática entre China e Taiwan, com consequências diretas para a nova Guerra Fria entre os Estados Unidos e a segunda maior economia do mundo. Não por acaso, a presidente taiwanesa embarcou em uma viagem pela América Central na quarta-feira para visitar dois de seus aliados remanescentes, Guatemala e Belize.

A situação na América Central não é promissora para Taiwan. Honduras é o quarto país da região a romper relações diplomáticas com Taiwan em pouco mais de cinco anos. Em junho de 2017, o Panamá iniciou a tendência, que ganhou força em agosto de 2018 com El Salvador e ainda mais em dezembro de 2021 com a Nicarágua. Antes da intensa onda pró-China inaugurada pelo Panamá, a Costa Rica já havia cortado relações diplomáticas com Taiwan em favor das relações com a China em 2007.

Além da América Central

Embora não localizada geograficamente na América Central, a República Dominicana – integrante do Sistema de Integração Centro-Americana – também participou da debandada regional menos de um ano depois do Panamá, em maio de 2018. A extensão da influência chinesa nas relações entre Taiwan e a América Latina também chega ao sul.

Na América do Sul, o Paraguai continua sendo o único aliado da ilha asiática. Mas as eleições de abril também podem mudar o cenário. O candidato da oposição, Efraín Alegre, defende a reavaliação da relação do Paraguai com Taiwan. Alegre é um dos favoritos para vencer a eleição, mas os resultados devem ser apertados.

A China e seu interesse na América Latina

Entre 2000 e 2020, o comércio entre a China e a América Latina saltou de US$ 12 bilhões para US$ 315 bilhões, um aumento de 26 vezes. Em poucos anos, a China substituiu os Estados Unidos como principal parceiro comercial da América do Sul, embora a potência norte-americana continue sendo a principal influência econômica na América Latina como um todo.

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Mas a recente onda de aproximação da América Central com a China mostra que o país tem usado a região como ilustração de seu poder sobre os Estados Unidos, uma vez que se mostrou capaz de ocupar um território historicamente dominado por seu vizinho do norte com uma facilidade impressionante.

Os últimos anos testemunharam algumas tentativas de aproximação de países latino-americanos com os Estados Unidos, como vimos no Brasil do ex-presidente Jair Bolsonaro, que abalou as relações diplomáticas do país com a China – disparado o mais importante parceiro comercial do Brasil. Mas Bolsonaro perdeu as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2022 e o atual presidente, em poucos meses de trabalho, já tem visita diplomática à China marcada para assinar cerca de 20 acordos comerciais.

A vitória de Lula no Brasil ocorreu em meio à nova onda rosa que domina a região. Com a eleição de líderes de esquerda em todo o continente, a América Latina mostra interesse em se afastar dos Estados Unidos, país historicamente visto por muitos como imperialista. A oportunidade de ouro para se livrar daquelas algemas veio através dos bilhões de dólares trazidos pela China

A batalha pela América Latina tem um vencedor claro. A influência norte-americana é enorme, mas o efeito cascata das contínuas rupturas dos países da América Central com Taiwan mostra que o poder chinês só cresce – enquanto o interesse em retomar a relação do século 20 com os Estados Unidos só diminui.

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