Como o projeto de usurpação de terras na América Latina tem uma longa tradição, leis foram implementadas para proteger os colonos. Assim, hoje os habitantes nativos das terras do distrito de Raúl Arsenio Oviedo são invasores e os invasores vítimas de ocupação. Foi o que determinou o Estado paraguaio, conforme mostra outra reportagem do Última Hora. Superados pelo número desproporcional da força policial, os indígenas deixaram suas casas pacificamente, relata a reportagem.
Histórico de condenações internacionais
Embora a ação do governo Abdo não surpreenda, ela viola a Constituição do Paraguai, como argumentou o Última Hora. A Carta Magna do país reconhece os direitos das comunidades indígenas de acesso a terras comunitárias, com extensão suficiente para que possam viver de acordo com suas tradições, além de proibir o despejo de indígenas. Os pactos internacionais firmados pelo Paraguai também estipulam que o país deve se responsabilizar pela realocação de cidadãos, o que não aconteceu, segundo a instituição Base Investigaciones Sociales.
Por suas frequentes violações dos direitos territoriais indígenas, o Paraguai já foi condenado três vezes pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A CIDH também aprovou uma série de medidas cautelares em favor das comunidades indígenas do Paraguai.
A CIHD não é o único órgão internacional a agir contra a política anti-indígena do Paraguai. Em outubro deste ano, o Comitê de Direitos Humanos da ONU condenou o Estado paraguaio por permitir a contaminação de um território Ava Guaraní por agrotóxicos de plantações próximas.
Apesar dessas condenações internacionais, o Paraguai continua avançando em sua agenda extrativista, com comunidades indígenas e camponesas relatando um aumento significativo na expropriação sem ordem judicial nos últimos meses, de acordo com a Base Investigaciones Sociales. Essas ações se dão depois de Abdo promulgar uma lei, em setembro, que aumenta a pena para até dez anos de prisão para os chamados invasores de terras. Para muitos, o regulamento, conhecido como Lei Zavala-Riera, criminaliza a luta indígena e camponesa pela terra, direito reconhecido pela Constituição.
Terra da soja e a 'estrangeirização' do Paraguai
Até semana passada, os Hugua Po'i viviam em terras que abrigam o pouco que resta da floresta do departamento de Caaguazú. Entre 2002 e 2020, Caaguazú perdeu 40% da sua floresta primária, segundo a Global Forest Watch, tornando-se um dos departamentos do Paraguai que mais sofre com o desmatamento. A área ao redor das terras das quais os Hugua Po'i foram expulsos é dominada pela produção de soja.
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