Na última sexta-feira, 8 de novembro de 2019, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a prisão em Curitiba e foi recebido por uma multidão de apoiadores, muitos dos quais acamparam nas proximidades desde o dia em que foi preso há um ano e sete meses.
No dia seguinte, com a voz já rouca, Lula falou por 45 minutos diante de milhares de apoiadores em San Bernardo do Campo, San, capital da indústria automobilística brasileira e o coração da atividade trabalhista no país. Era um mar vermelho, pois muitos usavam camisetas da cor do Sindicato dos Metalúrgicos, berço político de Lula e cujos escritórios serviam de pano de fundo para o discurso.
O Supremo Tribunal Federal finalmente foi forçado a admitir que Lula havia sido injustamente preso antes de seu apelo ser ouvido, o que vai contra a constituição do país. O ex-presidente havia sido acusado de aceitar como propina um duplex de frente para a praia, acusação que ocorreu no momento em que ele anunciou sua candidatura para retornar à presidência.
Ele foi rapidamente condenado a doze anos por corrupção, impedindo-o de concorrer com o ultraconservador Jair Bolsonaro, que acabou se tornando presidente.
Mas o duplex ainda não havia sido construído e Lula havia comprado um apartamento mais simples em um prédio mais atrás, longe da praia. No entanto, o juiz Sergio Moro considerou Lula culpado.
Moro foi posteriormente nomeado Ministro da Justiça pelo Presidente Bolsonaro. Em junho de 2019, Glenn Greenwald e David Miranda, do Intercept Brasil, publicaram um imenso estoque de documentos secretos que mostram "conspiração imprópria e antiética" entre o promotor-chefe Delton Dallagnol e Moro.
Lula declarou que se sentia repleto de energia para continuar lutando. Na noite de sexta-feira, ele disse nas mídias sociais: "Estou livre para ajudar a libertar o Brasil da loucura que está acontecendo neste país". No sábado, ele mostrou a simpatia que torna seus seguidores afetuosos e também, disse ele, a prisão o ajudou a "fazer amigos" e a "se preparar espiritualmente" para seu retorno.
Alternando entre dois microfones com defeito, ele descreveu suas raízes humildes no empobrecido nordeste do Brasil e as oportunidades que o sindicato e a solidariedade dos trabalhadores lhe proporcionavam.
“Eu nasci na cidade de Garanhuns (PE), eu saí de lá com sete anos pra vir pra São Paulo. Eu fui criado por uma mãe e por um pai que nasceram e morreram analfabetos. Eu sempre disse, desde 1979, que a evolução política que eu tive era resultado da evolução política do povo trabalhador deste país... Eu devo tudo que eu tenho a essa mãe que vi nascer e morrer analfabeta, devo a esse povo do sindicato e a esse sindicato”, afirmou, apontando para a sede da o Sindicato dos Metalúrgicos, onde, no início de sua carreira, recebeu cursos de ciência política e economia
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