Após mais de uma década fora de Brasília, a ambientalista Marina Silva encontrará ano que vem uma capital diferente da que deixou. Eleita deputada federal em 2 de outubro, ela também é cotada para voltar a comandar o Ministério do Meio Ambiente na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, que venceu o segundo turno das eleições presidenciais contra o atual gestor, Jair Bolsonaro.
Marina Silva ocupou o ministério de 2003 e 2008, durante parte da gestão do ex-presidente Lula, quando o Brasil se tornou protagonista mundial na criação de áreas protegidas e o desmatamento da Amazônia caiu 58% em três anos (de 2004 a 2007). Ela deixou o ministério por que os rumos da agenda do governo atritavam com sua política ambiental e depois ficou mais três anos em Brasília para concluir seu mandato como senadora, do qual tinha se licenciado para ocupar o ministério, até 2011.
Desde então, ela buscava um caminho independente na política, com a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade, disputando três eleições presidenciais e seguia avessa ao Partido dos Trabalhadores e seus líderes. Mas, em 12 de setembro, a maré virou.
Em uma coletiva de imprensa divulgada na noite anterior e realizada em uma sala apertada para os jornalistas presentes, Lula e Marina anunciaram sua reconciliação.
"Politicamente, existiu — e existem — divergências," disse que, no entanto, argumentou que "o risco de uma segunda gestão" Bolsonaro exigia alianças amplas. "Chegamos a uma situação em que ou é democracia ou o fim da democracia".
Silva disse que, apesar da distância política, ela e Lula — que têm trajetórias parecidas de infâncias pobres e lutas em movimentos sociais — nunca deixaram de conversar. No reencontro, selado antes em uma conversa privada, ela lhe entregou uma lista com 26 compromissos para "resgatar a agenda socioambiental brasileira perdida".
No documento depois divulgado à imprensa, Silva cobra a recomposição dos quadros técnicos e dos orçamentos de órgão ambientais, inclusive do próprio Ministério do Meio Ambiente, esvaziado na gestão Bolsonaro; a retomada do plano de prevenção e controle do desmatamento da Amazônia e do Cerrado — criado em sua gestão como ministra; o incentivo à agricultura de baixo carbono, entre outras ações.
Ela confia que suas propostas serão levadas adiante por Lula: "Naquele dia 12, o ex-presidente assumiu um compromisso público dizendo que a agenda ambiental brasileira será transversal e que ela estará no mais alto nível de prioridade".
Ministra novamente?
O nome de Silva parece o mais óbvio para assumir o ministério diante da vitória petista. Mas, questionada se aceitaria o possível cargo, ela desconversa: "Nesse momento, nenhum candidato a presidente deve ficar falando em ministério. E ninguém que apoia uma candidatura deve fazer isso pensando em ministério".
Como deputada federal ou ministra, a ambientalista terá pela frente um Congresso, como definiu a Revista Piauí, "mais hostil ao meio ambiente", a começar pela eleição do ex-ministro Ricardo Salles. Mesmo renunciando ao cargo após denúncias em sua administração da pasta, ele volta a Brasília com quase três vezes mais votos que Silva.
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