Não há como uma economia nacional se expandir simplesmente por meio do jogo das trocas, nem há como uma economia capitalista se desenvolver de forma ampliada e acelerada sem que ela esteja associada com seu próprio Estado e com seu projeto de acumulação do poder e de transformação ou modificação da ordem internacional estabelecida.
Fiori, J. L. História, Estratégia e Desenvolvimento. São Paulo: Editora Boitempo, 2014, p. 28
A visita do presidente argentino, Alberto Fernández, imediatamente depois da eleição do novo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, tem várias conotações simbólicas ligadas às suas relações pessoais, e associadas às relações históricas entre os dois países. Ao mesmo tempo, a rapidez da visita chama atenção para a urgência do desafio e para a gravidade da ameaça que paira sobre a sociedade argentina, e a brasileira, divididas neste momento, e polarizadas por uma luta sem quartel entre dois projetos de futuro absolutamente antagônicos, para si, para o Cone Sul e, de certa forma, para toda a América do Sul.
Brasil e Argentina competiram pela hegemonia sul-americana durante quase um século, desde a Guerra do Paraguai, mas ao mesmo tempo foram o território privilegiado de dois grandes ciclos de crescimento econômico, que tiveram duração quase idêntica: na Argentina, entre 1870 e 1930; e no Brasil, entre 1930 e 1980. Entre 1870 e 1930, a economia argentina cresceu a uma taxa média anual de cerca de 6%; e já no início do século XX, havia se transformado no país mais rico do continente sul-americano, e na sexta ou sétima economia mais rica do mundo, com uma renda per capita quatro vezes maior do que a dos brasileiros no mesmo período.No entanto, depois de 1940, a Argentina entrou num longo processo entrópico de divisão social e crise política crônica, por não conseguir definir e consensualizar uma nova estratégia nacional de desenvolvimento adequada ao contexto geopolítico e econômico do pós-Segunda Guerra Mundial.
Foi quase no mesmo momento da desaceleração argentina que começou o take-off da aceleração econômica brasileira, na década de 1930, estendendo-se até a década de 1980, quando a economia brasileira cresceu a uma taxa média anual de 7%, ultrapassando a Argentina e transformando-se na principal economia da América do Sul já nos anos 1950. Completou-se, assim, um longo período de quase 110 anos de crescimento contínuo, no Cone Sul do continente sul-americano, onde se deve incluir também o caso simultâneo do sucesso econômico uruguaio, pelo menos até a década de 1950. Um desempenho econômico notável, mesmo se tomarmos em conta a história mundial do desenvolvimento capitalista.
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