democraciaAbierta: Analysis

4 razões pelas quais a destruição da Amazônia brasileira continua a piorar

Sob o governo Bolsonaro, o Brasil tornou-se o país com a mais significativa perda de floresta primária no mundo

Chris Dalby Mark Wilson
15 Dezembro 2021, 12.01
Agente do Ibama durante operação contra mineração ilegal em 2016
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Bruno Kelly/REUTERS/Alamy Stock Photo

O Brasil foi bastante ambicioso na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), em Glasgow, no início de novembro. Reduzir as emissões pela metade. Acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Atingir a neutralidade de carbono até 2050.

Observadores se mostraram mais do que céticos, dada a propensão do presidente Jair Bolsonaro em dispensar, se não mesmo impedir, quaisquer tentativas de conter o desmatamento na Amazônia. Sob sua vigilância, o Brasil tornou-se o país com a mais significativa perda de floresta primária no mundo.

Vários focos de calor na Amazônia, muitos surgindo desde o fim da COP26, só provaram mais uma vez a lacuna enorme que há entre as promessas ambientais do Brasil e suas ações.

Neste artigo, o InSight Crime analisa quatro crises ambientais recentes no Brasil, cada uma mostrando um lado diferente do desastre na Amazônia.

O terror às balsas de garimpo

Em novembro, fotografias mostrando um enorme grupo de balsas flutuantes no rio Madeira, afluente do Amazonas, despertaram a preocupação mundial.

Milhares de mineiros ilegais invadiram o rio Madeira em busca de ouro, causando grandes danos ambientais, enquanto as autoridades locais e federais debatiam sobre quem era a responsabilidade. Um garimpeiro local disse à Associated Press que pelo menos 400 embarcações, transportando cerca de 3 mil pessoas, estavam ao longo do rio, a cerca de 120 km de Manaus.

De acordo com a investigação da AP, os garimpeiros, enquanto trabalhavam ilegalmente, criaram um círculo de apoio. "Aqui, todos se conhecem. Somos todos amigos, somos todos família", afirmou um.

"Sabemos que ... somos ilegais. Mas todos nós precisamos sustentar nossas famílias", disse outro.

A investigação da AP estimou que, para cada 40 horas de trabalho, uma balsa chega a coletar uma média de 60 g de ouro, equivalente a US$ 3,5 mil.

Inicialmente, tanto o Ibama quanto o Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) se recusaram a assumir a responsabilidade de por fim à aglomeração de balsas.

Finalmente, em 28 de novembro, forças de segurança foram enviadas ao local. A polícia e as tropas do Exército apreenderam várias balsas e as incendiaram. O ministro da Justiça, Anderson Torres, afirmou no Twitter que 131 embarcações foram capturadas e destruídas.

"A ação deflagrada pelas forças federais mostra que o Brasil tem capacidade para enfrentar práticas ilegais e garantir a proteção dos nossos rios, florestas e comunidades tradicionais. É uma questão de vontade política", disse o Greenpeace.

No entanto, a crise está longe de ser evitada. O extraordinário número de embarcações reunidas no mesmo lugar provocou este forte clamor, mas grupos menores de balsas têm sido, e continuarão a ser, uma visão comum em todos os cursos de água da Amazônia brasileira.

Atraso e negação

A tentativa mais evidente de encobrir o fracasso do Brasil na Amazônia foi, sem dúvida, a supressão ativa dos dados de desmatamento antes da COP26.

Tanto Bolsonaro quanto o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, estavam cientes dos dados que mostram níveis recorde de desmatamento e os esconderam voluntariamente do público antes da conferência, de acordo com a AP, citando três ministros do gabinete que falaram sob condição de anonimato.

O relatório final do PRODES, projeto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que monitora o desmatamento utilizando imagens de satélite, já havia revelado um aumento dramático do desmatamento na Amazônia brasileira.

No entanto, Bolsonaro gabou-se na conferência sobre dados menos precisos do sistema de alerta precoce do governo, o DETER, que havia indicado uma diminuição anual para o mesmo período.

A AP entrevistou três ministros e um funcionário do INPE, que indicaram que o relatório final do PRODES estava disponível no sistema de informação do governo em 27 de outubro, três dias antes do início da conferência, em 31 de outubro.

Estes funcionários também afirmaram que, em uma reunião no palácio presidencial, Bolsonaro e vários de seus ministros decidiram não divulgar os resultados do relatório até após a conferência.

Nem o Ministério do Meio Ambiente nem o gabinete do presidente responderam aos pedidos de comentários da AP.

Dados climáticos falsificados

Em um incidente anterior, o governo brasileiro supostamente apresentou uma versão fabricada dos dados oficiais do PRODES para altos funcionários, de acordo com reportagem da Folha de S. Paulo.

Outubro de 2021 foi o pior mês de desmatamento da história do Brasil

Em uma reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal em 24 de agosto, comandado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, foi apresentada uma versão falsificada dos dados do PRODES, que mostrou uma redução de 5% no desmatamento entre agosto de 2020 e julho de 2021.

A reunião contou com a presença de representantes de cinco ministérios do governo, cada um deles aproveitando a oportunidade para elogiar sua contribuição para a redução fabricada.

Mas quando os dados oficiais do PRODES foram divulgados em novembro, eles mostraram um aumento dramático de 21,9% no desmatamento durante o período observado.

A quantidade total de cobertura florestal perdida, 13.235 km2, é a perda mais extensa registrada desde 2006, de acordo com o PRODES.

Mais floresta cortada e queimada

Embora o aumento geral do desmatamento tenha sido bem documentado no Brasil, outra métrica analisa a quantidade de floresta cortada por cada contribuinte individual.

Um estudo publicado pela Universidade de Queensland, em abril, mostrou que a área média dos desmatamentos individuais havia aumentado em mais de 60% desde que Bolsonaro tomou posse. Com base em dados do INPE do Brasil, o estudo observou que desmatamento agora compreende áreas de mais de 100 hectares, ou mais de 90 campos de futebol.

"As porções individuais do bolo estão muito maiores agora, pois os criminosos estão famintos, impulsionados pelas políticas ambientais atuais", disse o autor do estudo, Ralph Trancoso, em uma entrevista ao Mongabay.

Como razão central deste aumento, Trancoso destacou o abandono do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) pelo governo Bolsonaro, política creditada com a redução significativa do desmatamento.

"Antes os desmatadores sabiam que podiam ser vistos, mas agora o que parece ter mudado foi a postura deles, que não temem mais os esforços de monitoramento e fiscalização do governo, pelo contrário, sentem-se estimulados a continuar avançando sobre a floresta diante da certeza da impunidade", acrescentou Trancoso.

Os incêndios florestais também atingiram proporções sem precedentes, contribuindo para que outubro de 2021 fosse o pior mês de desmatamento da história do Brasil.

*Traduzido por Lourenço Melo


Este artigo foi originalmente publicado pelo InSight Crime. Leia o original aqui.

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