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Radicalização e violência bolsonarista marcam campanha no Brasil

Discurso radical de apoiadores do presidente e violência geram preocupação frente as eleições

democracia Abierta
27 Setembro 2022, 12.01
113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrer agressões físicas por seu posicionamento político
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A campanha presidencial frente às eleições de 2 de outubro vem sendo marcada pela presença ubíqua de violência no Brasil — simbólica e física. Diante da preocupação, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu temporariamente diversas flexibilizações de compra de armas de fogo devido ao "risco de violência política" no país.

As restrições foram impostas após pedidos de diferentes partidos políticos para limitar o alcance de decretos do presidente Jair Bolsonaro que facilitam o acesso a armas no Brasil. Analistas acreditam que as ações também visam impedir atos de incitação ao discurso de ódio de Bolsonaro, que usou os atos institucionais do bicentenário da independência do Brasil como plataforma para sua campanha, convocando o Exército e seus apoiadores. Para muitos, as atitudes de Bolsonaro no 7 de setembro aprofundam o clima de violência política no país.

O aumento do clima de medo no Brasil levou a Humans Right Watch (HRW) a se posicionar.

A organização internacional de direitos humanos emitiu seu apelo em decorrência de dois casos recentes de violência: o assassinato de Marcelo Arruda, guarda municipal e militante do Partido dos Trabalhadores (PT), em Foz do Iguaçu, no Paraná, e do trabalhador rural e eleitor do PT, Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa, no Mato Grosso. Ambos os casos envolvem apoiadores de Bolsonaro.

A manifestação da HRW não é sem embasamento. Segundo a pesquisa "Violência e democracia: panorama brasileiro pré-eleições 2022", realizada pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e o Forum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), e divulgado pelo Datafolha, 67,5% dos entrevistados teme ser vítima de agressões físicas por motivos políticos ou posicionamentos e opiniões partidárias. Apenas 32,5% afirmou não temer ser atingidos pela violência nas eleições.

A pesquisa também indica que 113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrer agressões físicas.

Casos de violência contra líderes políticos saltou 23% em relação ao primeiro semestre de 2020

”É difícil falar em eleições livres e justas com este nível de violência. As eleições livres estão ameaçadas não pelas razões que Bolsonaro suspeita — as urnas eletrônicas —, mas pela violência política", disse o presidente da FBSP, Renato Sergio de Lima.

‘Aqui é Bolsonaro, porra!’

Segundo testemunhas, asúltimas palavras do agente penitenciário Jorge Guaranho antes de assassinar Marcelo Arruda foram: “Aqui é Bolsonaro, porra!".

A morte de Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, que comemorava seu aniversário de 50 anos com uma festa cujo tema era o PT e o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva, chocou o Brasil e se tornou um dos eventos mais graves de uma trajetória crescente de violência política no país nos últimos tempos.

Nos primeiros seis meses do ano, o número de casos de violência contra líderes políticos ou seus familiares saltou 23% em relação ao primeiro semestre de 2020, ano das últimas eleições (municipais) no país.

Foram 214 episódios violentos —ameaças, agressões, homicídios ou sequestros — contra 174 registrados há dois anos, segundo o Observatório da Violência Política e Eleitoral do Grupo de Pesquisa Eleitoral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A dias das eleições, que provavelmente verá uma decisão entre Bolsonaro e Lula — favorito nas pesquisas —, o medo de uma escalada de violência política é compartilhado por líderes políticos, polícia, autoridades brasileiras e observadores.

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O presidente brasileiro dá indícios de que não deve aceitar os resultados de outubro. Mas tem força política para dar um golpe?

O caso de Arruda marca um nível de violência nunca antes visto na história política recente do Brasil, produzindo a pior polarização que o Brasil conhece desde sua redemocratização em 1985 — período marcado por disputas entre o PT e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

A diferença é que, naquela época, a rivalidade se mantinha dentro das linhas da Constituição. Agora, porém, ao incluir armas e discurso violento, o quadro é mais perigoso.

Antes do assassinato de Arruda chocar o país, a campanha do PT já havia passado por incidentes preocupantes.

Em 15 de junho, apoiadores de Lula foram surpreendidos por um drone que jogou urina e fezes durante ato em Uberlândia, em Minas Gerais. Apenas dois dias antes do assassinato de Arruda, um ato de Lula na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo de uma bomba caseira. Naquele dia, o ex-presidente apareceu pela primeira vez usando um colete à prova de balas.

Após o ataque, a Polícia Federal decidiu antecipar esquema de segurança, uma operação inédita que envolve entre 300 e 400 agentes de segurança.

Os candidatos são divididos em uma escala de 1 a 5 em nível de risco. Bolsonaro e Lula são os de maior risco e, portanto, os presidenciáveis com o maior número de agentes à disposição.

O presidente, porém, tem segurança garantida pelo Gabinete de Segurança Institucional. Lula, por outro lado, não tem esquema adicional, gerando maior preocupação por sua segurança.

A base desse clima violento faz parte da agenda do governo Bolsonaro. Desde antes de ser eleito, o presidente emprega uma retórica agressiva, mentirosa e intolerante, promovendo políticas de flexibilização das leis de armamento de civis.

O Brasil enfrenta vários perigos: o primeiro é que Lula seja vítima de um atentado. Segundo, Bolsonaro, com seus constantes ataques ao processo eleitoral, dá indícios de que pode dar um golpe, caso Lula vença resultado por parte de Bolsonaro. E terceiro, o discurso inflamado promovido pelo presidente podem motivar um cenário como o da invasão do Capitólio, nos EUA.

Se a distância entre os dois candidatos diminuir e as eleições forem para o segundo turno, a radicalização da direita deve aumentar ainda mais.

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