Eu terminei a escola primária, mas já estava grávida de quatro meses quando comecei o ensino médio. Ficou muito difícil fazer as lições, então desisti. Também tivemos que economizar para o parto. Custou cerca de 12 mil pesos (US$ 600) e tivemos que vender nosso fogão e geladeira para conseguir o dinheiro.
Eu tenho dois filhos agora: uma filhinha e um filho de dois anos. O pai do menino está morto. Um dia, uns homens passaram por sua casa à procura de um de seus amigos. O cara não estava lá, mas os homens atiraram no meu ex-namorado e nos pais dele antes de partirem.
Agora moro com meus pais. Não trabalho desde que minha filha nasceu e isso vem causando problemas. Meu pai diz que, como não tenho emprego, preciso lavar as roupas deles, cozinhar para todos, etc. Eu os ajudo, é claro, mas ele quer que eu faça mais do que posso. Minha mãe me defende. Ela diz que ele não pode falar assim comigo, que ela está lá para fazer as coisas que ele quer que eu faça. Nessas horas, ele sempre ameaça nos expulsar de casa. Minha mãe é quem mais me ajuda. Ela até parou de trabalhar na maquiladora (fábrica de montagem) para me ajudar a cuidar das crianças.
Trabalho desde os 14 anos. Comecei como garçonete, mas saí porque meus turnos terminavam muito tarde. Depois trabalhei na Movistar (operadora de celular) por um ano, oferecendo promoções e tentando convencer as pessoas a mudarem de operadora. Fui demitida por causa da pandemia, mas gostava daquele emprego. Eu não tinha que ficar no escritório o dia todo e trabalhava com um amigo. Ele também está morto hoje. Ele estava atravessando a rua quando alguém passou atirando de um carro. Uma bala atingiu seu rosto.
Meu namorado e eu gostaríamos de conseguir um lugar para morar, mas ele não ganha muito e temos dois filhos para cuidar. Ele terminou o ensino médio com uma especialização em construção. Agora está trabalhando como pedreiro na reforma de uma casa. Eu gostaria de ter minha própria casa e voltar a estudar. Eu gostaria de terminar o ensino médio, conseguir um emprego para ajudar meu parceiro e construir algo que eu possa deixar para meus filhos. Eu não quero que tenham que lutar como eu.
Comentários
Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy