Claver-Carone também prometeu trabalhar para reduzir a influência da China no Banco e contrabalançar a política agressiva de empréstimos e investimento em infraestrutura do gigante asiático na região. Da mesma forma, desde seu cargo poderá influir no financiamento de projetos de gestão de fluxos migratórios, tema que foi definido como prioritário pela organização e que é muito sensível para a opinião pública de seu país.
O BID e o futuro após a pandemia
A importância estratégica do BID é hoje maior do que nunca à luz das consequências da pandemia de Covid-19, que pode implicar em um retrocesso de décadas de trabalho para o desenvolvimento econômico e a redução da pobreza na América Latina e no Caribe. No entanto, a chegada de uma pessoa com uma agenda abertamente política, como é o caso de Claver-Carone, à presidência do banco, pode representar um obstáculo na recuperação rápida e eficaz da pior crise da história recente da América Latina, acentuando ainda mais as enormes desigualdades econômicas e sociais já existentes na região.
Apesar de ser o único candidato que chegou ao final da disputa, um terço dos membros do banco preferiu abster-se em vez de apoiar Claver-Carone, e até mesmo um grupo tentou evitar o quorum necessário para realizar a votação. Este é um precedente para a polarização que pode ocorrer dentro do órgão e que pode dificultar a tomada de decisões, já que entre os críticos do novo presidente estão países com considerável peso regional, como o México e a Argentina.
Além disso, o BID pode ficar paralisado caso vire um novo palco na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, tendo em vista que para vetar qualquer decisão Washington precisaria do apoio de Pequim, o que é improvável. E a eventual vitória de Joe Biden e uma maioria democrata no Congresso pode gerar tensões internas com Claver-Carone, criando dificuldades adicionais para o funcionamento do BID, como o desembolso de recursos.
De qualquer forma, a eleição de Claver-Carone evidencia a ambiguidade e as motivações eleitorais da política externa de Trump. Por um lado, ele tenta reduzir ou acabar com a participação dos Estados Unidos em órgãos internacionais, como no caso da OMS e mesmo da OTAN. Mas por outro, mostra-se empenhado em conseguir maior controle sobre eles, como no caso da OEA e agora também do BID.
É irresponsável trazer instabilidade e incerteza a uma região que carrega grande descontentamento social – como vimos nos últimos protestos, alguns deles muito violentos, em diversos países – e que tem sido especialmente punida pela pandemia do coronavírus. Será necessário trabalhar muito para construir um consenso para que a presidência de Claver-Carone não seja excessivamente destrutiva para o futuro de uma instituição financeira multilateral que será mais necessária do que nunca nos próximos anos.
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