A luta política por trás das legislações anti-aborto também é uma luta de classes.
A realidade é que o aborto é ilegal apenas para mulheres pobres. Mulheres com recursos sempre podem interromper a gravidez indesejada. Ou conhecem um médico que realiza abortos medicamentosos por um preço exorbitante para a maioria, ou têm os recursos para viajar para um local onde o aborto é legal, ou têm meios para comprar uma pílula, em seu próprio país ou em outro lugar.
A restrição do acesso ao aborto seguro mantém as mulheres pobres em situação de pobreza, perpetua o ciclo que as impede de mobilidade social e permite que a riqueza permaneça nas mãos dos ricos, principalmente dos homens brancos.
Decidir se e quando ter um filho é essencial para o bem-estar psicológico, mas também econômico, de uma mulher: a maternidade tem implicações para sua educação, seu ingresso na força de trabalho ou permanência nela e para o desenvolver de uma carreira profissional.
Em um estudo de 2018 baseado em entrevistas com 813 mulheres nos Estados Unidos por cinco anos, os pesquisadores detectaram que as mulheres que tiveram o direito de abortar negado tinham maior probabilidade de se encontrar em situação de pobreza seis meses depois de dar à luz em comparação com as mulheres que conseguiram interromper a gravidez.
As mulheres que não puderam abortar também tinham menor probabilidade de ter trabalho em período integral e maior probabilidade de depender de alguma forma de assistência pública. Ambos os efeitos "permaneceram significativos por 4 anos".
O estudo conclui que "mulheres que tiveram um aborto negado tinham maior probabilidade do que mulheres que foram capazes de interromper a gravidez de passar por dificuldades econômicas e insegurança por anos. Leis que restringem o acesso ao aborto podem significar piores resultados econômicos para as mulheres afetadas".
América Latina
Na América Latina, esse cenário é exacerbado pela enorme desigualdade na região, que torna as mulheres pobres ou minoritárias invisíveis perante as políticas públicas. As mulheres indígenas, por exemplo, são desproporcionalmente afetadas pelas consequências adversas que afetam sua saúde sexual e reprodutiva.
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