Uma palavra que tem sido usada nas redes sociais para descrever o aumento da violência policial no Brasil chama a atenção: genocídio. O termo vem sido visto com mais intensidade essa semana, quando o país tenta descrever seu espanto diante da morte da pequena Ágatha Félix, de apenas 8 anos, que, ao que tudo indica, levou um tiro de policiais nas costas no Complexo do Alemão.
“Genocídio. É o que está acontecendo no Brasil com esse governo. E pior! Com o apoio do governo dos EUA! Não apenas pessoas estão sendo mortas. Ecossistemas inteiros são destruídos por esse sistema. Não restará nada... apenas ódio e miséria”, escreveu um usuário do Instagram em inglês em uma postagem do The Economist sobre o assunto.
Outro comentário logo abaixo apenas dizia, também em inglês: “É um genocídio”.
Estamos vivendo um genocídio no Brasil? O termo foi desenvolvido em meados do século XX pelo advogado judeu polonês Raphael Lemkin para descrever o massacre de judeus durante o Holocausto. Em 1948, a Organização das Nações Unidas classificou o genocídio como crime passível de punição, ao aprovar a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio.
Para um crime ser julgado como genocídio, a ONU estabeleceu alguns critérios que teriam que ser cumpridos para ser definido como tal. Nessa definição – bem estrita e específica – inclui matar membros de um grupo étnico, religioso, nacional ou racial; causar danos físicos e/ou mentais; infligir deliberadamente a esse grupo um estilo de vida com a intenção de destruí-lo; impor medidas que previnam o nascimento de novos membros desse grupo; e a transferência de crianças do grupo para outro grupo.
A licença para matar que as forças armadas e policiais brasileiras têm se encaixa em quase todos – se não todos – os aspectos de genocídio citados, mesmo que provar intenção ou premeditação seja judicialmente complexo.
Mas se formos analisar os casos clássicos de genocídio – o Holocausto, o Genocídio Armênio, o Genocídio em Ruanda – eles são caracterizados por eventos específicos que aconteceram durante um período determinado. Nesse contexto, a realidade brasileira difere dos outros casos.
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