democraciaAbierta: Opinion

O sofrimento do povo haitiano é imensurável

O Haiti precisa de uma operação internacional de estabilização e incentivo sustentável a longo prazo

democracia Abierta
20 Agosto 2021, 12.01
Pessoas procuram sobreviventes no local de um hotel que desabou após o terremoto de magnitude 7,2 em Les Cayes, Haiti, 16 de agosto de 2021
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Ricardo Arduengo/REUTERS / Alamy Stock Photo

No sábado, 14 de agosto, os haitianos acordaram em um pesadelo já conhecido: um terremoto de magnitude 7,2 atingiu o sudoeste do país, deixando mais de 2 mil mortos e cerca de 10 mil feridos, segundo os números provisórios do escritório de Proteção Civil do Haiti.

Poucas semanas após o assassinato de seu presidente, Jovenel Moïse, que segue sem resposta, esta nova crise sobrecarrega ainda mais a nação já devastada.

Após o terremoto, a situação no território se fez desesperadora. O governo haitiano não está em condições de oferecer assistência às vítimas e a ajuda internacional não chegou como em outras ocasiões. Além disso, muitas das igrejas, lugares que costumam receber os afetados por desastres, estão em ruínas.

Essa é a realidade de um país que, em meio a uma crise institucional, de representatividade e extrema violência, enfrenta os estragos de um terremoto de magnitude maior do que o que assolou o país em 2010, que foi de 7,0.

Escombros do terremoto de 2010
Escombros do terremoto de 2010
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Alamo Stock Photos

De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), o epicentro do terremoto, de 10 km de profundidade, aconteceu a 12 km da cidade de Saint-Louis-du-Sud. Os principais danos ocorreram nas cidades de Les Cayes, Jérémie e na capital, Porto Príncipe.

No domingo, o primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, declarou estado de emergência por um mês. Enfrentando-se a hospitais saturados, tanto devido à pandemia de Covid-19 quanto ao desastre, Henry pediu a força e solidariedade dos haitianos para enfrentar a atual situação dramática: sem presidente, diante de violência desencadeada e sobre um país destruído.

Diante da situação, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou uma resposta imediata para enviar ajuda ao Haiti. Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, também enviou ajuda, assim como o presidente dominicano, Luis Abinader.

Crianças e adolescentes foram os mais afetados pelo desastre, fato destacado por Save the Children e Unicef.

“Estamos profundamente tristes com as informações sobre as vítimas e os danos causados ​​pelo terremoto no Haiti”, disse Bruno Maes, representante do UNICEF no país, em nota enviada à mídia.

As redes sociais, por sua vez, estavam repletas de imagens da destruição do país. Centenas de haitianos publicaram fotos de prédios que desabaram durante o terremoto, enquanto a imprensa internacional revisava os arquivos do jornal para traçar paralelos com o terremoto que há uma década mergulhou o país em uma crise da qual ainda não conseguiu sair.

Tempestade no meio da crise

Somando-se à espiral de desastres, a chegada de Grace, uma forte tempestade tropical, aumentou o sentimento de frustração e desânimo.

A tempestade não apenas atingiu um país já destruído, mas também interrompeu as operações de resgate e busca de sobreviventes após o terremoto, gerando angústia e tristeza entre os milhares de haitianos que perderam tudo no terremoto.

A tempestade atingiu o sudoeste do país, justamente a área mais afetada pelo terremoto. A tempestade despejou 40 cm de chuva no país antes de seguir seu curso.

O terremoto e a tempestade atingiram um país que já estava mergulhado em uma crise política, de segurança e humanitária.

“É imenso o sofrimento de seu povo”, escreveu a ativista de direitos humanos haitiana Rosy Auguste Ducéna antes do terremoto e da tempestade, em trechos de seus diários. É um país sem norte que, após o assassinato de seu presidente, assiste impotente o descarrilhar do país diante de uma crise política e institucional interminável e onde as violações dos direitos humanos são sistemáticas, como descreve a própria Rosy.

Casas coloridas em morro de Porto Príncipe
Porto Príncipe
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Alamy Stock Photos

Para ajudar o Haiti, não é suficiente inundar o país com bilhões de dólares de ajuda humanitária que vão pelo ralo, como vimos com o terremoto de 2010. Precisamos repensar uma operação internacional de estabilização e incentivo em grande escala e que seja sustentável a longo prazo para tirar o país do buraco em que caiu.

Primeira nação independente da América Latina e do Caribe e primeira a abolir a escravidão quando a rebelião de escravos derrotou as forças de Napoleão, o Haiti não merece todo esse sofrimento.

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