Diante de níveis de desmatamento nunca vistos nos últimos dez anos, o presidente Jair Bolsonaro, prometeu na última quinta-feira, 22 de abril, dobrar os investimentos para combater o desmatamento no país durante a cúpula de líderes sobre o clima convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Mas Bolsonaro quebrou sua promessa já no dia seguinte.
Na sexta-feira, 23 de abril, o presidente sancionou o orçamento de 2021, mostrando que os recursos alocados ao Ministério do Meio Ambiente não só não refletem os fundos prometidos, como também incluem cortes históricos. Bolsonaro fez um discurso enganoso na quinta-feira, contradizendo toda sua retórica sobre o meio ambiente. O presidente prometeu se comprometer com os esforços globais para eliminar os gases do efeito estufa até 2050 e acabar com o desmatamento ilegal até 2030.
“Apesar das limitações orçamentárias do governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais do governo, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização”, disse Bolsonaro em seu discurso.
Durante o evento, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chegou a pedir US$ 1 bilhão para a implantação de planos de proteção ambiental, prometendo reduzir o desmatamento entre 30% e 40% em um ano.
Com um valor aprovado de pouco mais de R$ 2 bilhões de reais, o orçamento para o meio ambiente é o mais baixo desde 2010. Em termos reais, descontando a inflação, o montante aprovado para 2021 é 9% inferior ao do ano passado e 76,8% inferior ao de 2010.
Bolsonaro vetou cerca de R$ 240 milhões para o ministério, quando havia prometido acrescentar R$ 115 milhões. Outros dos ministérios mais afetados pelos cortes orçamentários de 2021 foram o da Educação, para qual Bolsonaro vetou R$ 1,2 bilhões, e o da Saúde, com um veto de R$ 2,2 bilhões no meio da pior fase da pandemia de Covid-19 no país. “É o próprio presidente desmentindo a si mesmo”, disse Cláudio Ângelo, coordenador de comunicação do Observatório do Clima, referindo-se à contradição entre o que foi prometido e o que foi aprovado no orçamento.
Reação global negativa
Alguns dias antes da cúpula, um grupo de 35 celebridades, com o apoio de organizações da sociedade civil como a Amazon Watch, se manifestou contra o possível acordo ambiental entre Biden e seu homólogo brasileiro, que vêm conversando de forma bilateral desde fevereiro deste ano.